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Revelações sobre a Missão de Srila Prabhupada

 

Segunda Edição Revista e Ampliada

Exemplo de Amor e Afeição extraído de aulas e cartas de A. C. BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPADA E  SRILA BHAKTIVEDANTA NARAYANA MAHARAJA

 

PUBLICACÕES GAUDIYA VEDANTA

Copyright c 1998 by Sri Gaudya   Vedanta Samiti

ISBN 81-86737-04-1

 

 

 

ÍNDICE

 

UM RELATO HISTÓRICO ...........................................................7

 

MINHA MISSÃO NO OCIDENTE................................................17

 

RECORDAÇÕES NA SEGUNDA AVENIDA, 26........................18

 

UM TESOURO TRANCADO NO COFRE.........................  ..........26

 

O DIVINO DESAPARECIMENTO DE  

SRILA BHAKTIPRAJNANA KESAVA MAHARAJA......  .........27

 

CARTA DE CONDOLÊNCIAS......................................................30

 

A MESMA SIDDHANTA, A MESMA LINHA.............................33

 

KRSNA, O OCEANO DE RASA ....................................................44

 

A MISSÃO DE SWAMI JI................................................................58

 

 

 

 

UM RELATO HISTÓRICO

 

Em junho de 1996, no templo de Radha-Ramana, em Orange County, Califórnia, Siddhanta prabhu da Illuminations Television (ITV) entrevistou Srila Naryana Maharaja sobre o relacionamento dele com Srila Prabhupada.

 

Entrevistador: Por favor, conte para nós como foi o seu primeiro encontro com Srila Prabhupada e em que circunstâncias você notou nele quaisquer características de um devoto puro, e como se destacou.

 

Srila Naryana Maharaja: Eu era o servo pessoal do meu Gurudeva, Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja e vivia viajando com ele. Nós tínhamos uma Matha (centro de pregação e Asrama) em Calcutá, chamado Gaudya Vedanta Samiti. Foi lá que eu conheci Swami ji (*) em 1946 ou 1947. Sempre que Guruji vinha para Calcutá, Swami ji costumava vir visitá-lo. Os dois eram discípulos de Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Gosvami Thakura e também eram grandes amigos. Swami ji conheceu Srila Prabhupada lá por 1922, e quatro anos antes disso, em 1918 o meu Guru Maharaja tomou iniciação dele. Portanto meu Guru Maharaja era o irmão espiritual mais velho de Srila BhaktiVedanta Swami ji. Desde o início eles foram amigos íntimos.

 

Por alguns problemas na missão Gaudya em 1939-40, meu Guru Maharaja foi para Prayada, Allahabad, para a casa de Swami ji. Naquele tempo Swami ji tinha lá uma drogaria muito boa e era muito renunciado. Meu Guru Maharaja passou cinco ou seis meses com ele, e tiveram inúmeras conversas.

 

Em 1941 nosso Gurudeva, juntamente com BhaktiVedanta Swami ji estabeleceu a Gaudya Vedanta Samiti em Calcutá. Naquela época Swami ji era o Abhay Babu. Eu fui para a Ma˜ha em 1946, e talvez na mesma época, ou quem sabe um mês depois que cheguei em Calcutá, Swami ji voltou para lá novamente. Eu era o servo pessoal do meu Gurudeva e também servia Swami ji. Ele ficou muito satisfeito ao ver o meu serviço à Gurudeva, me fez algumas perguntas e ficou satisfeito com as minhas respostas. Ele me perguntou: “Qual é o seu nome? De onde você veio?” E eu costumava servi-lo.

Em 1953, nosso Guru Maharaja começou dois jornais, o Sri Bhagavat Patrika e o Gaudya Patrika. O Gaudya Patrika era em bengali e o Sri Bhagavat Patrika era em hiadi. Guru Maharaja pediu que Swami ji fôsse o editor geral dos dois jornais (patrikas). Swami ji aceitou e começou a fornecer artigos excelentes, especialmente sobre o Gita — do começo ao fim. Ele escreveu um certo artigo sobre a missão murgi. Murgi significa galinha. A “missão galinha”. Eles se consideravam pessoas religiosas mas comiam carne de murgis, galinhas — e até de vacas. Eles não tinham misericórdia alguma, e no entanto pensavam que eram pessoas religiosas e que conheciam o Vedanta. Esta é a missão murgi. Swami Maharaja escreveu tão maravilhosamente que todo mundo o elogiou, e nosso Guru Maharaja pediu a ele que escrevesse mais artigos como aquele — para reformar instituições e samskaras religiosos.

 

Aqueles que não estão seguindo Krsna e o Vedanta de verdade não são pessoas verdadeiramente religiosas. É exatamente assim que Swami ji escreveu sobre os mayavadas no Gita. Aqueles que pensam que o Possuído e o Possuidor são o mesmo Krsna, estes são Vaisnavas. Mas aqueles que pensam que o corpo de Krsna e KrNi (a alma de Krsna) são diferentes, são mayavadas, e eles não entendem nada sobre o significado do Gita. Um doutor erudito, o presidente da Índia, Dr. Sarvapalli Radhakrishnan era muito famoso nos países ocidentais devido a sua filosofia, mas ele escreveu que o corpo de Krsna era uma coisa e que a alma espiritual de Krsna era outra coisa. Então Swami ji escreveu contra o Dr. RadhakrishnaN. Ele escreveu muito fortemente sobre o Vedanta e especialmente sobre o Gita e sobre o Srimad Bhagavatam — que Krsna, o corpo de Krsna, as posses e tudo o que tem relação com Ele são a mesma coisa. Ele é sat-cit-ananda.

 

Foi enviado de Mathura um exemplar ao Dr. Radhakrishnan, e a todas as pessoas eruditas do samsad (parlamento). O Dr. Radhakrishnan não respondeu. Ele não pôde responder, por que os mayavadas são contra o caminho de bhakti. Existem muitos argumentos, mas levaria muito tempo para explicar. Swami ji me dava artigos em bengali e eu os traduzia para o hiadi. Eu tinha um relacionamento muito íntimo com ele.

 

Eu o aceitava como um filósofo muito bom e confiável. Ele não frequentou nenhuma faculdade para aprender sânscrito, o Gita, ou o Vedanta. Ele nasceu filósofo e devoto puro. Ele era um maha-bhagavata, mas fazia o papel de um Vaisnava madhyama-adhikara para ajudar e dar iniciação para os outros. Um uttama-adhikara não dá iniciação para ninguém. Ele julga que todo mundo é maha-bhagavata e que está sempre servindo a Krsna. Por isso ele fazia este papel, o de um madhyama-adhikara. Mas eu pude realizar quem ele era por suas palavras e por sua associação.

 

Em 1955 Swami ji viveu em Mathura por mais de cinco meses e lá ele dava aulas diariamente. Ele lia o Srimad Bhagavatam e falava sobre os passatempos de Prahlada, Citraketu, Kapila e Devahuti e sobre a Damodara-lala. Ele traduzia os versos palavra por palavra e explicava o significado. Ele conseguiu atrair inúmeras pessoas eruditas de Mathura. Naquela época, enquanto ele dava as aulas, ele me mandava fazer Kirtana. Naquele tempo a minha voz era boa e eu costumava cantar lindos Kirtanas. Eu era famoso em toda a missão Gaudya pelo Kirtana e pela dança. Então ele me dizia para cantar e ele tocava mrdanga.

 

Eu costumava cozinhar para ele e o ajudava de inúmeras maneiras. Eu lhe dava muitos livros da minha biblioteca, para ajudá-lo na sua tradução do Srimad Bhagavatam, e depois de algum tempo ele foi para Delhi e publicou os três volumes do Primeiro Canto.

Swami ji gostava muito de um doce de Mathura chamado pera e ele costumava me falar: “Oh, traga-me pera.” Então eu lhe trazia, e conversávamos variados assuntos. Acho que o resultado destes acabaram sendo estabelecido na ISKCON. Fiquei com ele muitos anos em Mathura e depois disso em Vrindavana. Eu estava com ele todos os dias.

Então, sem uma paisa, sem nenhum tostão, ele veio para os países ocidentais. Quando ele estava em Nova Iorque, em 1965, ele me pediu que: “Você deve vir para cá. Estou sozinho e terei que fazer alguma coisa por aqui; portanto você deve vir.” Eu lhe disse que: “Meu guru está aqui e eu o estou servindo. Quando ele voltar para Bengala eu poderei ir.” Swami ji disse: “Muito bem, você deve servir ao seu Gurudeva, mas quando você tiver uma oportunidade então certamente você deverá vir e se juntar a mim.” Eu disse: “Sim, eu irei.” Depois disso eu lhe enviei todos os seus livros: Gita, o bhaya de Ramanuja (Sri Bhaya), o bhaya de Sanskara (Sararaka-bhaya) e todos os bhayas (comentários) para Nova Iorque. Há alguns dias eu vi estes livros em Los Angeles. Não todos, mas alguns deles estão lá. Eu lhe enviei mrdangas, karatalas e vigrahas de Sri Radha-Krsna e também dez quilos do doce pera todo mês. Trouxe um pouco para cá, mas já acabou.

Navina Krsna prabhu (servo de Srila Maharaja): Ficou tudo em Houston.

Srila Naryana Maharaja: Tínhamos cinco ou seis quilos que eu queria  distribuir onde quer que fosse, em memória de Swami ji, mas não pude.

Em 1967, Swami ji retornou para a Índia com Kartnanananda. Fui a única pessoa que foi recebê-lo no aeroporto em Delhi. Nós fomos para o templo Radha-Krsna em Delhi e passei a viver ali, a pedido de Swami ji, portanto pude lhe prestar inúmeros serviços. Então veio Acyutananda. Swami ji costumava dizer: “Eu não estou me sentindo bem, estou cansado, então vá com o Kirtanananda e com Acyutananda para a casa de algumas pessoas, e lá você terá que dar algumas aulas.” E eu fazia isso.

 

Depois Swami ji veio para Vrindavana, para o templo de Radha-Damodara, eu costumava visitá-lo, vindo de Mathura. Ele comentava vários assuntos sobre Vedanta e especialmente sobre o Srimad Bhagavatam. Ele discutia muitos princípios e explicava por que Caitanya Mahaprabhu veio para este mundo — para pregar nama e dharma. Ele explicou como Sri Caitanya Mahaprabhu veio desfrutar o humor de Srimata Radhika. Anarpita caram cirat karuNayavatarNam kalau samarpayitum unnatojjvala-rasam sva-bhakti-Sriyam. Lá ele deu uma associação de alta classe, muito profunda. Ele gostava muito de mim.

Mais tarde em 1968, nosso Gurudeva desapareceu deste mundo. Eu enviei uma mensagem a Swami ji que naquela época estava em Seatle. Quando ele a recebeu, me respondeu imediatamente, como se estivesse escrevendo e chorando: “Estou muito sentido com isso.” Ele escreveu um Sloka e explicou que “assim como Srila Raghunatha dasa Gosvami ficou chorando pelo seu Gurudeva, Srila Sanatana Gosvami, eu também estou sentindo a mesma coisa.” Ele assim registrou: vairagya-vidya nija-bhakti-yogam, então apayayan mam anabhapsu andham Sra-Kesava-bhakti-prajnana-nama. “Não estava com humor para assumir a ordem renunciada. Tinha muito medo. Minha família me rejeitou e eu estava sem nenhum tostão, mas eu ainda não estava pronto para tomar sannyasa e cumprir a ordem de Gurudeva para ir aos países ocidentais e pregar a sua missão. Mas pujapada Kesava Maharaja me deu sannyasa, a ordem renunciada. ‘Você tem que tomar’.” Swami ji me escreveu que este era o seu Sraddhanjali para os pés de Gurudeva.

A ordem renunciada não é uma brincadeira. Ela muda a nossa vida inteira. Ela significa que estamos aspirando por gopa-bhava. Alguns dizem que Swami ji era apenas um amigo de Krsna. Mas eu me oponho veementemente contra isso. O seu mantra de sannyasa era um gopa-mantra. E ele tinha um gopala-mantra. Aqueles que receberam a segunda iniciação sabem o que é gopala-mantra. Sem o gopala-mantra ninguém pode ter o humor que Sri Caitanya Mahaprabhu desejava dar. Isso eu ouvi dele diretamente. E também por ouvir as suas aulas, sei que ele veio na linha de Sri Caitanya Mahaprabhu — para dar a missão de Sri Caitanya Mahaprabhu. Esta também é a missão de Srila Bhaktivinoda Thakura e a de Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura. Os dois são associados de Krsna e de Mahaprabhu. Eles não são deste mundo. Então Swami ji não veio apenas para dar dharma. Ele não veio só para dar yuga-dharma de harinama. Esta não é a missão de Mahaprabhu; esta é a missão do MahaviNu ou Advaita ncarya.

yuga-dharma-pra vartana haya

amSa haite ama vina anye nare vraja-prema dite

 

“Minhas porções plenárias podem estabelecer os princípios da religião para cada era. No entanto, ninguém a não ser Eu, pode conceder o tipo de serviço amoroso realizado pelos residentes de Vraja.“ (Cc. adi: 3.26)

 

Quando Sri Caitanya Mahaprabhu veio, assumindo o humor de Srimata Radhika, ele ensinou prema. É este prema que ele desejou dar para as Jivas.

 

prema-rasa-niryasa karite asvadana
raga-marga bhakti loke karite pracaraNa
rasika-Sekhara Krsna parama-karuNa
ei dui hetu haite icchara udgama

 

“O Senhor desejou aparecer por dois motivos: Ele desejava saborear a doce essência das doçuras do amor a Deus e propagar o serviço devocional no mundo, na plataforma da atração espontânea. Desta maneira Ele é conhecido como supremamente jubilante e como o mais misericordioso de todos.” (Cc. adi: 4.15-16)

 

Esta é a missão de Sri Caitanya Mahaprabhu, a missão de Sri Rupa e Raghunatha Gosvamis e a missão de Srila JIva Gosvami, Srila Krsnadasa Kaviraja e mais tarde de Srila Syamananda Prabhu, Srila Narottama dasa Thakura, Srila Srinivasa Thakura e depois de Srila ViSvanatha Cakravarta Thakura e depois Srila Gaura-kiSora dasa BabaJi e de Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura. Então Swami ji foi para o Ocidente apenas para dar a missão deles. Nada de novidade; apenas a missão deles. Ele não escreveu nenhum livro novo. Ele traduziu o Gita e também deu os significados. Ele também deu significados no Srimad Bhagavatam, ISopaniad e outros livros. Ele deu os nomes do parampara de Narada até Sri Caitanya Mahaprabhu e dEle até Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura. Portanto, ele não estava fora da nossa linha, a linha Gaudya Vaisnava. Ele era um Gaudya Vaisnava. A primeira missão Gaudya foi a Gaudya Ma˜ha na linha da nossa sucessão discipular. Não devemos tentar cortar este elo. Se alguém está fazendo isso, é devido a ignorância. Ninguém deve tentar cortar Swami ji da nossa linha e desta maneira provocar a sua própria queda da sampradaya. Swami ji não criou nada de novo.

Posso lhes dizer algo sobre a sua missão nos países ocidentais. Ele sempre esteve conectado com a sampradaya. Primeiro ele teve que arar e transformar a terra árida em terra cultivável — criar um terreno fértil. Ele plantou sementes e estas sementes não devem nunca permanecer do mesmo jeito. Elas devem germinar, devem crescer, devem progredir e dar doces frutos. Devemos incrementar as nossas atividades devocionais, nossa consciência de Krsna. Não devemos permanecer como Vaisnavas de terceira classe. A consciência de KrsNa foi estabelecida por Sri Caitanya Mhaprabhu e por Srila Rupa Gosvami. Não devemos permanecer como sementes por cem anos. Devemos nos tornar qualificados, de outra maneira estaremos na ignorância. Devemos avançar profundamente na filosofia de Sri Caitanya Mahaprabhu, de outro modo não acompanharemos Srila BhaktiVedanta Swami Maharaja.

Swami ji escreveu tudo em seus livros, inclusive que ele não poderia falar muito naquela época. Aqueles que pensam que Swami ji está morto, estão mortos. Ele está sempre dando inspiração para todo mundo. Devemos saber que ele está vivo e que está dando inspiração. Se nós o servirmos, veremos que seus livros têm sempre um novo significado, um significado novinho em folha. Então poderemos ler os seus livros de maneira apropriada e nos tornarmos mais qualificados. Aprendi com ele que devemos nos associar com devotos competentes e mais avançados do que nós. Nós devemos honrá-los. Devemos ver que todos os devotos estão numa família, na família do Senhor Caitanya. Se não estamos pensando desta maneira, então não podemos ser bhaktas (devotos). Devemos pensar que estamos numa família e que existem inúmeras mãos. Krsna, Sri Caitanya Mahaprabhu, ou Swami ji têm milhares e milhares de mãos e nós devemos honrar todas estas mãos; devemos honrar todos aqueles que estão cantando o Nome. Eu o ouvi dizer que aqueles que estão cantando o Nome, mesmo que não tenham tomado iniciação, se estão cantando, devem ser honrados. Aqueles que tomaram iniciação devem ser mais honrados. E aqueles que são maha-bhagavatas devem ser servidos de todas as maneiras. Swami ji escreveu tudo isso em suas traduções (**)[1].

Devemos saber o que é rasa-Siddhanta, o que é bhakti e o que é bhakti-rasa. Primeiro devemos ler o Bhagavad-Gita, onde os significados de Swami ji declaram claramente que não somos estes corpos. Neste corpo existe um ego. “Oh, eu sou tão amável. Sou um Vaisnava fidedigno”. Neste corpo temos ira e inveja, insultamos os outros, não nos comportamos bem e não honramos os nossos irmãos mais velhos. Nós nos esquecemos deles. Sem ego, luxúria, anartha e ofensas, devemos nos esquecer da concepção corpórea de vida. Então nós nos tornamos devotos avançados.

 

Se estivermos apegados a coisas mundanas como apartamentos, riqueza, mulheres, prathista e fama, então devemos acreditar que não há esperança — não somos Vaisnavas. Portanto‚ devemos nos tornar Vaisnavas.

 

Por isso oro para que aqueles que foram iniciados por Swami ji tenham a mente bem aberta e saibam que na verdade eu fui o primeiro discípulo de Swami ji, desde antes da ISKCON ser fundada.

 

Existem dois tipos de discípulos — Sika e Diksa e os dois estão no mesmo plano. Às vezes o Siksa guru é superior e às vezes o Diksa guru pode ser superior. O relacionamento com o Siksa guru é como o relacionamento com um amigo, como bons amigos. O Diksa guru deve ser muito bem respeitado e às vezes podemos ter até um pouco de medo dele. Mas o Sika guru é como um amigo, às vezes ele senta no mesmo assento que nós. Eu costumava-me sentar na mesma cama que Swami ji, ou no mesmo asana. Então, durante os seus últimos dias, fui para Vrindavana para vê-lo. Ele pegou as minhas mãos e colocou-as sobre as suas mãos, e me disse para sentar-me em sua cama. Mas eu lhe ofereci praNama e sentei em outra cadeira. E ele me disse: “Eu tenho muitos discípulos, mas eles não sabem muito. Você deve tentar ajudá-los. Especialmente o meu samadhi deve ser dado pelas suas mãos. Eu desejo isso.” As lágrimas vinham dos seus olhos quando ele estava me ordenando isso. Eu lhe disse: “Você é meu Sika guru. Apesar de você e eu sermos amigos, eu sempre o considerei meu Sika guru. Eu sempre seguirei as suas instruções, palavra por palavra, letra por letra”. E eu tenho seguido. Então eu disse para todos os discípulos presentes, especialmente para os líderes: “Vocês não devem pensar que Swami ji vai morrer. Vocês devem pensar que ele tem a missão de ajudar os países ocidentais. Por isso, depois que ele partir, vocês devem se unir e tentar honrar um ao outro. Dêem esta missão aos países onde ele não pôde ir. Não deturpem a missão dele. O que existe de mais elevado é seguir as ordens dele. Vocês devem sempre tentar ter a mente aberta e não devem tentar controlar ninguém. Vocês não podem obter sneha, prema, amor e afeição controlando os outros e acumulando dinheiro. Vocês não podem controlar por dar ordens. Não tentem controlar ninguém”.

Swami ji lhes disse: “Venham, venham, ouçam Naryana Maharaja. Ouçam o que ele está dizendo”.

Depois que Swami ji partiu muitos devotos vieram de Mathura para Vrindavana e nós fizemos nagara-Sankirtana. Eu liderei o Kirtana, coloquei Swami ji no samadhi — com mantras védicos e todos os arranjos védicos. A maioria das pessoas renunciadas de Vrindavana, inclusive babaJis das quatro sampradayas foram até lá, e eu organizei tudo, inclusive quem deveria falar em público e em que ordem as pessoas deveriam falar. Eu honrei a todos, exatamente como Swami ji me pediu em suas palavras finais. Ele me disse: “Dê doações como você desejar. Você deve dar doação para o templo de Radha-Damodara, para todos os outros templos e para todos os meus irmãos espirituais.”

 

Nós levamos o corpo transcendental dele por toda Vrindavana: para o Radha-Damodara, para o Radha-Govinda, Radha-Gopanatha, Radha-Madana-mohana, Radha-Syamasundara, Radha-Gokulananda e outros templos, e por fim ele veio para a sua morada. O seu escritório principal era em Bombaim, o seu sadhana-bhumi, ou local de práticas espirituais, era em Navadvapa, Mayapur e sua morada eterna era em Vrindavana. Portanto, nós lhe demos o samadhi lá.

 

Eu peço humildemente aos devotos que tentem ter amor e afeto uns pelos outros. Assim como Swami ji trouxe todo mundo para o seu seva, devemos tentar amar a todos, e espalhar a missão de Caitanya Mahaprabhu, de Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura e de Swami ji.

Entrevistador: De todas as qualidades que Srila Prabhupada exibiu, qual delas o marcou mais? Qual a que se destacava mais?


Srila Naryana Maharaja: Os sintomas do guru estão descritos no Srimad Bhagavatam e no Gita, e eu vi estes sintomas em Swami ji:

 

tad-vijnanartham sa gurum evabhigacchet
samit-paNim Srotriyam brahma-nistham
(MuNdaka Upani
ad: 1.2.12)

 

Ele era um brahma-nistha, uma pessoa que abandonou todas as outras atividades e dedicou sua vida para trabalhar apenas para Krsna.

 

Neste verso: tasmad gurum prapadyeta jijnasum Sreya uttamam sabda para. Vemos que um sintoma do guru é que ele conhece Vedanta, UpadeSamrta, Srimad Bhagavatam, Bhagavad-Gita, etc. Ele deve ser Siddhanta-vit (conhecedor de todas as conclusões filosóficas) para que possa esclarecer as dúvidas dos seus discípulos. Sei que Swami ji era muito qualificado nisso. Ele sabia tudo. Ele era perfeito nisso.

 

Segundo, o guru deve estar desapegado das coisas mundanas e sei que Swami ji tinha este desapego. Ele tinha apego por tudo que estivesse relacionado com Krsna. O guru deve ter a realização do seu i˜adeva, Sri Sri Radha-Krsna e Sri Caitanya Mahaprabhu. Ninguém pode pregar sem ter realização. Se não está realizando bhakti de verdade, e se não tem realização, então suas palavras são vazias. Ninguém será capaz de segui-lo seriamente.

Portanto realizei isso: que qualquer discípulo, ou qualquer pessoa que se aproximasse de Swami ji era conquistada por ele. Ele conquistava seus corações com amor e afeição. Sem a realização de Krsna ninguém pode fazer isso.

 

O Gita declara:

tad viddhi pranipatena paripraStenena sevaya
upadek
yanti te jnanam jnaninas tattva darSina

 

 

Quem é tattva-darSa? Alguém que conheça todas as Siddhantas de todos os Vedas, Upaniads e dos outros Sastras. PraNipatena paripraSnena. Você deve se aproximar de um guru assim e servi-lo, indagar-lhe respeitosa e repetidamente. Eu sei como Swami ji se aproximou de Srila Prabhupada, Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura, como ele o aceitou como o seu Gurudeva e especialmente como, num período de tempo bastante curto, ele propagou a missão de Sri Caitanya Mahaprabhu, o Seu prema, a Sua mensagem no mundo inteiro, estabelecendo cerca de cento e cinquenta templos pelo mundo todo. E mais importante do que isso, o seu Gita foi traduzido para cinquenta línguas. Em pouco tempo propagou a sua missão. Uma pessoa comum não pode fazer isso. Ele era a Sakti, a energia, a potência de Caitanya Mahaprabhu e do seu Gurudeva e pôde fazer tudo isso.

 

Eu me lembro de outro exemplo. Na última vez que vi Swami ji (no final da tarde antes dele partir deste mundo), ele foi tão amável comigo.

 

Ele me disse: “Fiz algumas coisas erradas na minha vida, e por isso desejo ser perdoado. Especialmente você, deve perdoar-me porque tem me servido e é tão querido para mim.”

 

Eu disse: “Não, não diga isso. Todo aquele que venha numa situação especial, numa ocasião especial, pode dizer qualquer coisa para encorajar os devotos novos, nós também costumamos falar estas coisas, não acho que você fez nada de errado.”

 

Ele então me disse: “Você deve perdoar-me e deve dizer para todos os meus irmãos espirituais que me perdoem. Quando eu disse para alguns discípulos ‘não se misturem com qualquer um, não se misturem com os meus irmãos espirituais,’foi numa carta, não em meus livros, e eu disse isso apenas num momento especial.” Swami ji era um Vaisnava de primeira classe, um maha-bhagavata. Ele escreveu algo assim apenas para que os devotos de terceira classe, kanisthas, pudessem incrementar o seu serviço.

 

Eu perguntei a ele: “Maharaja, somos amigos. Desejo saber por que as suas Deidades têm nomes que não são aplicáveis, não têm Siddhanta — como Radha Partha-sarathi e Rukmina-Dvarakadhasa. No que diz respeito a Rukmina-Dvarakadhasa, sei que em 1969 você estabeleceu e fez a prana-pratistha (cerimônia de instalação) de Radha-Krsna com flauta, pena de pavão e com Radha ao lado esquerdo de Krsna.”

 

Ele respondeu: “Quando eu estabeleci Radha-Krsna em Los Angeles, eu Lhes dei o nome Radha-Krsna, e então deixei Los Angeles (para a Índia). Quando regressei alguém havia mudado o nome para RukmiNa-DvarakadhaSa. Fiquei muito irado com esta pessoa. Eu era contra este nome, mas agora este nome pegou.”

 

No que diz respeito a Radha-Partha-sarathi, ele me disse que naquela ocasião estava muito doente e que os seus discípulos tinham dado este nome sem a sua verdadeira aprovação.

 

Eu li no seu livro “Krsna” que isso é rasabhasa. Swami ji escreveu sobre isso não apenas num local, mais em muitos outros (***)[2].

 

Ele me disse para não pensar que a sua idéia era essa.

 

Eu lhe disse que minha dúvida havia acabado e orei para que ele me abençoasse, para que eu fosse como ele em consciência de Krsna. Ele me concedeu a bênção e me senti muito feliz, por ter tido a boa fortuna dele ter me ordenado que permanecesse sempre a serviço dele.

 

Entrevistador: Sei que Srila Prabhupada teve muitas dificuldades e aborrecimentos em Bombaim para manter os seus centros; você teve alguma atuação para manter a propriedade da ISKCON?

 

Srila Naryana Maharaja: Há cinco anos, o filho de Swami ji disse no tribunal de Bombaim que Swami ji era um vaiSya, um homem de negócios, que ele não era um sannyasa e que ele não havia ido para os países ocidentais para pregar. O seu filho disse que apenas um brahmaNa pode se tornar um sannyasa. Como Swami ji era um homem de negócios, ele foi para o Ocidente a negócios, e que a ISKCON era um negócio de família. A conclusão do filho dele é que ele é o dono de todas as propriedades da ISKCON. Um líder da ISKCON veio me dizer: “Se você não prestar depoimento este filho vai ficar com toda a ISKCON, no mundo inteiro.” Ele me disse que deveria ir imediatamente. Eu lhe disse que só queria servir Swami ji, que iria sem qualquer pagamento, ou sem qualquer outra vantagem. Depois disso fui a Bombaim várias vezes e fiquei sentado no tribunal o dia inteiro. Todos os dia eu tomava prasadam de manha cedo, lá pelas sete horas, e depois ia direto para o tribunal. Apenas desejo continuar servindo a missão de Swami ji.

 

Está declarado nos Ensinamentos do Senhor Caitanya, cap. 30: “Portanto as gopas de Vrindavana não gostam de ver Krsna como o esposo de Rukmina, nem se dirigem a Ele como Rukmanaramana. Em Vrndavana Krsna é conhecido como Radha-Krsna, ou Krsna, a propriedade de RadharaNa. Apesar do esposo de RukmiNa e o Krsna de Radha estarem no mesmo nível no sentido comum, todavia no mundo espiritual, os nomes indicam diferentes compreensões dos vários aspectos da personalidade transcendental de Krsna. Se alguém iguala RukmiNaramana, Naryana, ou qualquer outro nome do Senhor Supremo, comete o erro de sobrepor sabores, que é tecnicamente denominado rasabhasa.”

 

 

MINHA MISSÃO NO OCIDENTE

 

Esta é parte de uma conferência dada durante a primeira viagem de pregação de Srila Naryana Maharaja no Ocidente. A conferência ocorreu em San Francisco, em 30 de junho de 1996.

Eu vim de Mathura, Vrindavana, mas não sinto que saí de lá. Em todos os locais tenho visto devotos competentes, como em Vrindavana. Swami ji era uma pessoa sem nenhum tostão, não conhecia ninguém em país algum, mas ele fez um milagre. Em curto espaço de tempo ele pregou as glórias de Sri Caitanya Mahaprabhu, Nityananda Prabhu, Jagannatha, Baladeva, Subhadra e Radha-Krsna pelo mundo todo. Quando ele estava planejando vir para o Ocidente pela primeira vez ele me disse: “Oh, você deve ir comigo.” Naquela época eu estava me dedicando ao serviço do meu santo mestre, Nitya-lila Om ViNupada Sri Srimad Bhaktiprjnana Kesava Maharaja. Portanto, eu lhe pedi humildemente: “Por favor me desculpe; dentro de pouco tempo irei e vou me reunir a você.”

 

Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura ordenou que Swami ji fosse para o Ocidente pregar o Santo Nome de Radha e Krsna e a mensagem de Sri Caitanya Mahaprabhu, e ele veio quase quarenta anos mais tarde. Da mesma maneira, Swami ji me ordenou, e eu vim quase vinte anos mais tarde. Ele ordenou que eu viesse e eu vim.

Minha missão nos países Ocidentais tem três propósitos. Primeiro, desejo receber a poeira dos pés de lótus de Srila BhaktiVedanta Swami Maharaja indo para os locais onde ele pregou nos Estados Unidos e na Inglaterra. Ele veio primeiro para Nova Iorque e por isso desejei vir para cá. Quando chegou‚ ele estava sem um tostão, cantando Sri Krsna-Caitanya e Hare Krsna, Hare Rama pelas ruas. Ele me escreveu daqui e eu lhe enviei os livros que ele desejava, muitos pares de Deidades — Gaura-Nityananda Prabhu e Radha-Krsna. Eu também lhe enviei karatalas, mrdangas e diversas parafernálias.

 

Segundo, vim para cá para dar a mensagem dele para o mundo inteiro. Ele plantou as sementes e elas cresceram de alguma forma, mas elas estão precisando de água. Swami ji me deu esta água, que é o seu hari-katha, e de acordo com a minha habilidade, estou levando esta água para todos os lugares. Estou muito feliz de poder cumprir as suas instruções e de receber a poeira dos seus pés dos locais que ele santificou.

 

O terceiro propósito das minhas viagens é de ajudar os devotos sinceros que estão infelizes depois de um grande período de tempo sem boa associação. Eu vim para lhes dizer: “Vocês devem ver que Swami ji está aqui, entre vocês. Vocês precisam se tornar poderosos e energizados, como no tempo do seu aparecimento manifesto. Não pensem que ele está morto e que ele não está aqui.” Não conhecia nenhum de vocês antes, mas Swami ji fez estas coisas maravilhosas nesta costa do Pacífico, de Los Angeles até San Francisco e até Vancouver e onde quer que eu vá, muitos devotos estão vindo me ver.”

Estou muito grato a Swami ji, e estou oferecendo as flores de lótus da minha devoção aos seus pés. Ele realizou um milagre e se hoje ele estivesse aqui, ele estaria pregando mais e mais. Ele escreveu e traduziu inúmeros livros, que foram traduzidos em mais de quarenta línguas. Mas ao mesmo tempo oitenta ou noventa por cento dos devotos deixaram a ISKCON. Quero que esta ISKCON se torne mais e mais poderosa. Ela deve ser reforçada e todo mundo deve pregar pelo mundo inteiro, assim como Swami ji pregou.

Vou falar um pouco de hari-katha do Caitanya-caritamrta e do Srimad Bhagavatam e vou tentar matar a sede de vocês para que o seu fervor, honra e apreciação pelo seu Prabhupada aumentem. Ele irá nos abençoar e ficará muito feliz por você terem vindo.

 

 

RECORDAÇÕES NA SEGUNDA AVENIDA, 26

 

 

Srila Naryana Maharaja fala no templo da Segunda Avenida, 26 em Nova Iorque, o primeiro templo de Srila Prabhupada, estabelecido em 1966.

Eu me lembro quando encontrei com Swami Maharaja, como ouvi dele, como realizei sua cerimônia de sannyasa e como o servi; e me lembro do nosso encontro final em 1977 quando o servi em Vrindavana.

Swami ji era um amigo íntimo do meu Gurudeva, Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja. Ele era um devoto competente, guru-nistha, sempre servindo a Krsna interna e externamente e nunca fazendo nada para ele mesmo. Ele simplesmente executou a ordem de Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi μmakura para servir Sri Sri Radha-Krsna e Sri Caitanya Mahaprabhu. Quando eu o comparei palavras. Não podemos nos oferecer completamente, atma e mente. com o meu Gurudeva, realizei que ambos estavam na mesma plataforma de tanu, mana e vacana. Isso significa que eles ofereceram seus corpos, mentes, palavras e almas aos pés de lótus do seu Mestre Sagrado. Também dizemos que nos oferecemos aos pés de lótus de nosso Mestre Sagrado, mas isso são apenas

Swami ji não veio para o Ocidente para fazer dinheiro, para obter reputação, ou para qualquer propósito mundano, como muitas outras pessoas da Índia. Ele veio apenas em obediência à ordem do seu Gurudeva e para cumprir as ordens de Radha e Krsna (o Casal Divino). Seu Gurudeva é a pessoa mais querida de Srimata Radhika. O seu praNama-mantra não diz que ele é um servo de Krsna:

 

nama om viNu-padaya Krsna-prethaya bhu-tale
Sra Sramad bhaktiSiddhanta-Sarasvathiti namine
Sra-var
abhanava-deva-dayitaya krpabdhaye

 

Penso que por isso Srimata Radhika disse para Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura: “Mande a sua criada ir para o mundo material para inspirar não apenas os seres humanos, mas todas entidades vivas que venham para Mim. Não existe bhakti nos países ocidentais. Não existe bhakti. As pessoas não sabem nada a respeito disso. Elas não sabem cantar o Nome de Krsna ou o Nome de Sri Caitanya Mahaprabhu e estão sempre imersas em gratificação dos sentidos e atividades mundanas. Por isso você deve enviá-la.” Por causa disso Swami ji veio.

 

Muitos devotos não sabem que a missão de Swami ji era a mesma que a de Sri Caitanya Mahaprabhu, Srila Rupa Gosvami, Srila Sanatana Gosvami, Srila Raghunatha dasa Gosvami, Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami e Srila Bhaktivinoda Thakura. Estes Acaryas eram todos muito próximos e queridos de Radha-Krsna e todos eles eram de Vraja. Srila Bhaktivinoda Thakura é Kamala-manjara, Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura Prabhupada é Nayana-manjara, Srila Rupa Gosvami é Rupa-manjara, Srila Svarupa Damodara é Lalita e Srila Raya Ramananda é ViSakha. A missão deles era a de fazer devotos puros pelo mundo.

Para podermos ser devotos puros temos que beber o conteúdo da garrafa que contém a fórmula:

 

trnad api sunacena, taror api sahisnuna
amanina manadena, Kirtanayam sada harim

 

 

 “Considerando-se inferior e mais insignificante do que a insignificante grama que foi pisoteada pelos pés de todo mundo, sendo mais tolerante do que uma árvore, desprovido de orgulho e oferecendo respeitos a todos‚ de acordo com suas respectivas posições, deve-se cantar continuamente o Santo Nome de Sri Hari.”

Se não seguirmos este Sloka, não poderemos nos tornar devotos puros. Às vezes não consideramos isso e Swami ji percebe. Não há necessidade de ir a Universidades e outros locais para adquirir conhecimento mundano. Que conhecimento vamos obter ali? Só devemos desejar o conhecimento do Santo Nome.

 

harer nama harer nama harer nama eva kevalam
kalau nastyeva nastyeva nastyeva gatir anyata

 

“Nesta era de discórdia e hipocrisia o único meio para a liberação é cantar o Santo Nome do Senhor. Não há outra maneira. Não há outra maneira. Não há outra maneira.”

 

Swami ji veio pregar isso e não há necessidade de aprender nada mais. Krsna-tattva, maya-tattva e todas as outras tattvas virão automaticamente por cantar Hare Krsna, Hare Krsna. O Nome de Krsna é mais poderoso do que o próprio Krsna.

 

Conheci Swami ji fim de 1946 ou início de 1947 e desde aquela época o tenho servido. Creio que a maioria de vocês não eram nascidos naquela época. Eu o tratava como um Sika-guru, mas ele me via como um amigo, não como um discípulo. Quando ele estava sem dinheiro, quando a sua esposa e os seus filhos o rejeitaram de casa, ele se aproximou de mim em Mathura e me contou a sua história. Nossas conversas costumavam ser em bengali e foi nesta língua que ele me falou como aderiu a Srila Prabhupada BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura. Ele disse: “Quando eu fui iniciado por Srila Prabhupada, eu li um Sloka: yasyaham anugrhNami hariye tad-dhanam Sanaim (Bhag. 10.88.8). ‘Quando alguém se abriga em Krsna, Krsna o transforma num pedinte de rua.’ Agora Ele me fez um destes pedintes. Tenho medo de que se cantar mais e se fizer mais serviços devocionais, eu possa me tornar como um pedinte de rua. E agora estou vendo que isso aconteceu.”

 

Eu lhe disse: “Krsna não quer que você seja bem sucedido nas atividades materiais, nem Prabhupada quer (Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura), e por isso Ele está fazendo isso com você. Você é tão poderoso e erudito. O seu Mestre Sagrado disse para você pregar nos países Ocidentais na língua inglesa. O seu inglês é tão bom, você pode fazer isso.”

 

Ele disse: “Não sei qual será o meu futuro, mas sei que a misericórdia de Krsna chegou e é por isso que fiquei tão pobre.”

 

Enquanto isso, nosso Gurudeva, Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja, veio para Mathura de Navadvapa-dhama e eu lhe pedi que solicitasse a Swami ji Maharaja que aceitasse a ordem de vida renunciada, e Gurudeva então o solicitou e ele concordou. No dia seguinte ele tomou sannyasa. Aquele dia era viSvarupa kol, o dia do desaparecimento de Srila ViSvarupa, o irmão mais velho de Sri Caitanya Mahaprabhu. Na cerimônia de sannyasa de Swami ji eu lhe providenciei a danda e dor-kaupina (vestes interiores), e também organizei o yajna e realizei a cerimônia de fogo. Então Guru Maharaja veio e lhe deu a dor-kaupina, o mantra de sannyasa e tudo mais. Krsnadasa babaJi Maharaja realizou o Kirtana.

Alguém me disse que esta coisa de sannyasa é só uma coisa secundária. Eu lhe respondi que ele não tinha conhecimento. Sannyasa e o mantra de sannyasa são dados apenas para quem quer alcançar gopa-bhava. Sannyasa não é uma coisa ordinária. Se Gurudeva vê que alguém está qualificado, ele dá este mantra e sannyasa. Na hora de aceitar sannyasa a pessoa faz o voto: “Agora não tenho mais nada a ver com as coisas mundanas, meu único desejo é gopa-bhava.”

Portanto isso não é uma coisa secundária e na verdade isso abre as portas de Vraja, para que se entre no humor das gopas. Às vezes pode ser que o daka-guru não dê sannyasa para um discípulo porque ele não está qualificado enquanto o guru está fisicamente presente. Mais tarde, quando o discípulo está pronto, o Sika-guru lhe dá.

Depois que Swami ji tomou sannyasa, nosso relacionamento se tornou ainda mais íntimo, como amigos. Fui com ele para Jhansi e outros lugares onde ele foi pregar. Ele sempre desejava estar comigo. Eu o ajudava a cozinhar e de muitas outras maneiras. Ele passava a maior parte do tempo traduzindo o Bhagavad-Gita na KesavaJi Gaudya Math (*)[3] em Mathura, onde também eu o servia. Depois disso nós dois fomos para Vrindavana, para o samadhi e bhajana-sthali de Rupa Gosvami, então Swami ji planejou vir para os países Ocidentais.

Nesta ocasião ele me disse: “Vou abrir algumas acomodações para o alojamento e pensão de estudantes e vou ajudá-los. Se for preciso vou também fornecer ovos, carne — tudo o que eles quiserem. Mas haverá uma condição; eles deverão cantar: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare — pelo menos uma volta de japa. Sei que eles irão abandonar estes maus hábitos em bem pouco tempo e eles se tornarão Vaisnavas competentes.” Ele era muito compassivo.

 

Quando Swami ji veio para Nova Iorque em 1966, ele trouxe consigo apenas um Gita, um baú cheio com os seus três volumes do Primeiro Canto do Srimad Bhagavatam e um par de karatalas. Ele me escreveu para mandar tudo o que necessitasse para estabelecer a consciência de Krsna. Eu lhe mandei os livros de referência para o seu trabalho de tradução. Agora me recordo que este era o endereço para onde eu costumava mandar estes itens: Segunda Avenida, 26.

 

Sempre que Swami ji fazia algo novo em sua pregação ele costumava me escrever. Quando esta instituição, a ISKCON, foi estabelecida, ele me escreveu uma vez que inúmeros hippies estavam se juntando a ele e se tornando ‘happies’ (felizes). Ele escreveu que estava indo regularmente aos parques para cantar ‘Sri-Krsna-caitanya prabhu nityananda Sra-advaita gadadhara Sravasadi-gaura-bhakta-vrnda.’ Então, quando ele para San Francisco, ele escreveu novamente. Recebi mais de trezentas cartas dele, a maioria delas em hiadi e bengali e nossa amizade foi assim.

 

Quando Swami ji retornou pela primeira vez para a Índia com Kirtanananda em 1967, fui o único a ir recebê-lo no aeroporto de Delhi. Niguém mais estava lá. Fiquei com ele cerca de sete dias em Delhi e depois ele foi para o templo de Radha-Damodara, em Vrindavana, e eu fui ver o meu Gurudeva. Eu costumava visitá-lo sempre.

 

Depois de algumas semanas, Acyutananda, outro discípulo de Swami ji, veio para a Índia. Como eles eram discípulos de Swami ji eu costumava me sentar com eles e honrar maha-prasada. Lembro-me que todos os Gosvamis de casta, e naquela época quase todos os irmãos espirituais de Swami ji, jamais tomariam água oferecida por Kirtanananda e Acyutananda, porque eles eram ocidentais e anteriormente haviam comido carne.

 

Quando Swami ji deixou este mundo, os seus discípulos ainda era muito jovens. Na véspera dele partir, Swami ji reuniu vários deles e disse: “Naryana Maharaja veio. Estou muito feliz. Agora tudo será feito.” Então ele me disse: “Naryana Maharaja, por favor ponha-me no samadhi com as suas próprias mãos. Sei que você teve um treinamento muito bom e tem experiência nisso. E também tente ajudar os meus discípulos, porque eles não sabem muita coisa. Você deve ajudá-los.”

 

Eu respondi: “Vou cumprir a sua ordem com a minha maior habilidade.”

Então ele disse para os seus discípulos mais antigos que me ouvissem, e eu lhes disse: “Vocês não devem pensar que ele vai morrer. Isso é uma brincadeira, um papel. Ele esta indo servir aos seus amos eternos, o Casal Divino e Caitanya Mahaprabhu e Nityananda Prabhu; numa outra forma ele estará aqui sempre para ampará-los. Assim como Narada, YaSodamaya, Nanda Baba e todos os associados de Krsna têm centenas de milhares de manifestações, Swami ji também tem. Desta maneira ele estará entre vocês, dando inspiração e fazendo arranjos. Se vocês acham que ele é um simples homem mortal, então tudo estará prejudicado. Vocês nunca devem pensar isso.

“Não briguem entre vocês por dinheiro, riqueza, reputação, etc. Vocês devem tentar cumprir a missão de Swami ji e honrar todos os devotos, sejam eles kanistha, madhyama ou uttama-adhikaras. Mesmo que alguém não tenha recebido iniciação, enquanto estiver cantando Hare Krsna, vocês devem honrá-lo como parte da família. Somos todos integrantes da família de Sri Caitanya Mahaprabhu.”

 

Creio que agora ele me trouxe aqui para o Ocidente. Agora ele está vendo que “Naryana Maharaja está aqui no meu templo da Segunda Avenida, 26; ele esteve na Califórnia, esteve no Manor, na Inglaterra, em Los Angeles e em inúmeros outros locais.” Agora Swami ji está me mostrando todos estes lugares: “Aqui eu fiz isso e aquilo...”

 

Sou muito afortunado em vir para este local e tomar a poeira dos seus pés. Este local é um maha-maha-tartha. Quando Haridasa Thakura abandonou o corpo, Caitanya Mahaprabhu o carregou pessoalmente em Seus braços e o colocou no samadhi com Suas próprias mãos. Ele disse para todo mundo que aquele local era um maha-maha-maha-tartha. Inicialmente era um tartha, mas pelo toque dos pés de Haridasa Thakura ele se tornou um maha-tartha muito mais poderoso. Analogamente, estas cidades na costa Leste, a costa Oeste, Los Angeles, Califórnia e outros locais, também se converteram em maha-maha-tarthas. Um dos propósitos da minha missão agora está cumprido e desejo sua misericórdia para tornar-me qualificado para ir onde ele está, no mundo espiritual, para ali encontrar-me com meu Gurudeva e com ele servir ao Casal Divino. Estou esperando e quando eles chamarem-me, irei. Até que chegue esta ocasião estarei em Vrindavana, Mathura e em outros lugares, cantando trNad api sunacena/ taror api sahiNuna/ amanima manadena. Gauranga bolite habe pulaka-Sarara (**)[4]. Rupa-raghunatha-pade hoibe akuti/ kabe hama bujhabo se jugala-pariti (***)[5].Nossa meta final é servir Srimata Radhika. Este foi o objetivo principal da vinda de Swami ji para este mundo — para nos dar o serviço a Srimata Radhika — não o serviço a Krsna. Krsna é desonesto, às vezes Ele é muito duro; mas Srimata Radhika é muito simples, meiga, doce e agradável. No Caitanya-caritamrta, o próprio Krsna admite que: “Meu guru é Srimata Radhika (4*)[6]”, e nós também devemos servi-lA. Foi por isso que Sri Caitanya Mahaprabhu veio   para deixar o caminho aberto. Então ele deu as sementes de bhakti, do serviço devocional a Krsna. Estas sementes frutificaram e assumiram as formas de Sraddha, nistha, ruci, asakti e bhava, onde os devotos nada têm a ver com este mundo. No próximo nascimento vem prema (6*)[7] e então os devotos entram em Goloka Vrindavana  (5*)[8] e esta foi a missão principal de Swami ji. Ele ficou muito tempo devastando as selvas de filosofia mayavada, jnanavada, karmavada e Portanto, Swami ji veio para dar este prema. Ele não queria que os seus seguidores permanecessem sempre no nível elementar, fazendo os serviços que ele deu inicialmente. Nós temos que avançar mais. Por outro lado, precisamos continuar fazendo estes serviços, tais como distribuir livros, escrever artigos, realizar Kirtanas, etc., mas também temos que avançar de Sraddha para nistha, para ruci e para asakti. Devemos saber o que é asakti, o que é ruci, qual é a meta e o que é viSuddha-sattva. Não é que apenas por fazermos Kirtana poderemos ficar imaginando que esta seja a meta final. Este é o tipo de Kirtana do kanistha-adhikara.

Quando uma pessoa que está envolvida em consciência mundana, pensando “eu sou este corpo”, realiza Kirtana, então o seu nama é de terceira classe (namaparadha); ele não é puro. À medida em que ela vai desenvolvendo sua consciência de Krsna, seu cantar do nama vai ficando cada vez mais puro. Quando cantamos com ofensas e intoxicações mundanas, este tipo de nama (namaparadha) pode nos dar dinheiro e reputação, mas em namabhasa também podemos alcançar a liberação; mas não podemos ter bhakti de forma alguma. Pela graça de Gurudeva podemos desenvolver o nosso coração para o estágio de ruci e então nos veremos realmente ligados aos Acaryas anteriores. Nesta ocasião, o nosso cantar do Santo Nome será quase perfeito e Suddha-nama, o cantar puro, acabará vindo. Quando isso ocorrer o nosso único desejo será vraja-bhakti.

Não devemos imaginar que Swami ji foi como nós, que ele só pregou um pouco sobre o cantar do Nome. Esta não é a única glória de nosso Gurudeva, nosso Swami ji. Sua glória foi que ele estava sempre dedicado ao serviço a Radha e Krsna. Ele veio a este mundo misericordiosamente e desejava nos dar o prema de Goloka Vrindavana. Devemos tentar conhecê-lo, glorificá-lo e pregar sua missão neste mundo. Oro aos seus pés de lótus para que ele possa estar satifeito e para que nos dê mais misericórdia, para que possamos ser capazes de Guru prachodayat. Você conhece este mantra? Ele é parte do guru-gayatri mantra. Qual é o significado dele? Neste mantra você está orando a Gurudeva: “Quem é você? Como você é? Qual é a sua forma? Quais são os seus serviços a Krsna e Krsna no mundo espiritual?” Krsnanandaya damaha. Quem é Krsnanandaya (note o “a” longo)? É Srimata Radhika. “Ó Gurudeva, tenha bondade de se manifestar em meu coração.”

 

Se você recitar este mantra com muito esmero, com concentração, o guru irá revelar a você tudo sobre ele e então você o verá. No momento nós não o vemos no sentido verdadeiro, assim como não podemos ver Krsna no sentido verdadeiro. Nós pensamos: “Oh, Ele é como um homem.” Duryodhana costumava vi Krsna, mas ele nunca compreendeu que Ele era o Senhor Supremo.

Se cantarmos este mantra com grande interesse e com grande honra, o guru se manifestará. Se alguém o ver de verdade, nunca cairá da sua posição de renúncia. Se alguém o viu e o serviu de verdade, mesmo que tenha sido apenas por um instante, jamais cairá. Mas se o serviu apenas externamente, pensando que ele é um monarca soberano, poderá cair, esta pessoa não avançará em bhakti. Servir realmente ao guru é algo muito raro — muito raro. Um verdadeiro devoto não terá ego e ele não tentará controlar os outros. Temos que nos tornar servos puros de Gurudeva. Apenas uma pessoa muito rara pode realmente servir.

Tenho visto Swami ji sob todos os aspectos. Devemos tentar vê-lo interiormente e segui-lo. Se alguém segui-lo bem pouco, com certeza um dia alcançará Krsna-prema. Portanto‚ imploramos aos seus pés de lótus que ele nos conceda sua misericórdia cada vez mais, que aqueles que tiveram contato com ele até mesmo por um momento, e aqueles que o tem ajudado, possam retornar a ele. Se eles caíram mas não cometeram ofensas, creio que terão alguma oportunidade, mas se cometeram ofensas intencionalmente, eles se distanciarão e poderão jamais retornar para a consciência de Krsna.

 

Devemos honrar e servir todos os gurus, de Krsna até os gurus de hoje em dia. Oro para Swami ji para que ele dê sua misericórdia para mim. Não vim para fazer discípulos, para fazer dinheiro ou para lucro material. Vim apenas para servir a missão de Swami ji e para cumprir suas ordens.

 

Srila BhaktiVedanta Swami Maharaja ki jaya!

 

 

UM TESOURO TRANCADO NO COFRE

 

Esta é parte de uma aula de Srila Naryana Maharaja no Atmananda Yoga Center em Nova Iorque em 12 de julho de 1996.

Ninguém chamou Swami ji para vir para o Ocidente. O seu Gurudeva o mandou e ele veio misericordiosamente para esta terra onde só são proeminentes o vinho, a riqueza e mulheres, onde ninguém sabe o que é atma, qual a sua identidade, porque veio a este mundo, qual é o seu dever e para onde deve ir. Aqui todo mundo está encoberto pela escuridão. Swami ji veio misericordiosamente para esta terra e em bem pouco tempo, centenas, milhares de pessoas se tornaram seus devotos. Aqueles que eram hippies se tornaram “happies” (felizes). Todos que foram tocados por suas palavras ficaram felizes.

Swami ji deu tudo em seus livros. Ele sabia que uma criança de um ano, de dois anos ou até de cinco anos não poderia assimilar toda aquela informação. Um pai ou uma mãe poupam dinheiro para os seus filhos, mantendo-o numa caixa com fechadura. Quando a criança está madura, ela estará qualificada para pegar o tesouro que está lá dentro. No entanto, antes da maturidade, a criança poderá desperdiçar o tesouro. Analogamente, Swami ji manteve todos estes tesouros, seus tesouros ocultos, em seus livros. Se vocês desejarem abri-lo, deverão saber que a chave está nas mãos do bhagavata.

Existem dois bhagavatas: grantha-bhagavata e bhakta-bhagavata. O bhakta-bhagavata é superior. A chave está nas mãos dos bhaktas competentes que têm prema. Eles podem abrir a fechadura. Swami ji colocou este tesouro que Srila Rupa Gosvami deixou no Bhakti-rasamrta-sindhu e em outros livros. Os livros de Swami ji estão repletos de tesouros. Em seus significados estão todos os ensinamentos que se encontram nos livros de Srila Rupa Gosvami. O Sri Upadesamrta (Néctar da Instrução) por exemplo, dá o processo pelo qual nós podemos chegar a Vrindavana e seguir Srila Rupa Gosvami.

Algumas pessoas podem dizer: “Não somos qualificados e jamais estaremos qualificados para ouvir sobre Goloka,” mas creio que isso é um erro, porque Swami ji escreveu sobre tudo isso em seus livros. Quando estamos maduros e qualificados, então podemos realmente desfrutar deste néctar e ir para o local
 que Srila Rupa Gosvami, Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami, Srila Vyasadeva e Srila BhaktiVedanta Swami Maharaja descreveram em seus livros.

 

 

O DIVINO DESAPARECIMENTO DE

SRILA BHAKTIPRAJNANA KESAVA MAHARAJA

 

Quando Srila Prabhupada estava em Seatle, no templo da ISKCON, no dia 21 de outubro de 1968, ele recebeu mensagens de Srila Naryana Maharaja e dos seus irmãos espirituais, informando-lhe sobre o desaparecimento do seu irmão espiritual e sannyasa-guru, Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja. Depois de receber esta notícia ele deu esta aula, extraída do folio da BBT:

Temos que aceitar a ordem renunciada (sannyasa) de outra pessoa que está na ordem renunciada. Eu nunca imaginei que deveria aceitar esta ordem de vida renunciada. Na minha vida familiar, quando estava junto de minha esposa e filhos, às vezes eu sonhava que meu mestre espiritual estava me chamando e eu o estava seguindo. Quando meu sonho acabava, ficava um tanto horrorizado (*)[9] e pensava: “Oh, Guru Maharaja deseja que eu me torne um sannyasa. Como posso aceitar sannyasa?” Naquela época, eu não ficava muito satisfeito ao imaginar que deveria abandonar a minha família e me tornar um meadicante; isso era um sentimento horrível. Às vezes eu pensava: “Não, não posso tomar sannyasa.” Mas eu tinha aquele sonho novamente. Portanto, eu era afortunado. Meu Guru Maharaja (Prabhupada começa a chorar com a voz embargada) me empurrou para fora desta vida material. Eu não perdi nada. Ele foi muito bondoso comigo. Eu sai ganhando. Deixei três filhos e agora tenho trezentos filhos.

 

Portanto, não saí perdendo. É apenas a nossa concepção material que nos faz pensar que deveremos sair perdendo ao aceitar Krsna. Posso dizer, com a minha experiência prática, que ninguém sai perdendo. Eu estava pensando: “Como posso aceitar esta ordem de vida renunciada? Não posso aguentar tanto sofrimento.” Mas eu me retirei da vida familiar e estava sentado, sozinho em Vrindavana, escrevendo livros. Meu irmão espiritual (Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja) insistia: “BhaktiVedanta Prabhu...” Este título havia sido dado enquanto eu estava na vida familiar. Ele me foi oferecido pela sociedade Vaisnava. Não foi ele que insistiu. Falando praticamente era o meu mestre espiritual que falava através dele: “Você deve aceitar.”

Sem aceitar a ordem de vida renunciada ninguém se torna um pregador. Meu Gurudeva desejava que eu me tornasse um pregador e me forçou‚ através deste irmão espiritual, que dizia: “Você deve aceitar,” mesmo sem desejar, eu aceitei.

Então me lembrei que Guru Maharaja desejava que eu fosse aos países Ocidentais. Agora estou me sentido muito eadividado com o meu irmão espiritual, porque ele cumpriu o desejo do meu mestre espiritual e me forçou a aceitar a ordem de sannyasa.

Este irmão espiritual, Sua Santidade Bhaktiprjnana Kesava Maharaja, agora está ausente. Ele entrou na morada de Krsna. Desejo enviar uma mensagem de condolências e todos aqui presentes devem assiná-la e eu a mandarei amanhã. Compus um verso, também relacionado com este fato, em sânscrito. Vairagya-vidya-nija-bhakti-yogam. Esta consciência de Krsna é vairagya-vidya. Vairagya-vidya significa “começar a detestar este mundo material”. Isso se chama vairagya-vidya e isso só é possível através de bhakti-yoga. Vairagya-vidya-nija-bhakti-yogam apayayan mam. É como um remédio. A criança tem medo de tomar o remédio e também experimentei isso. Na minha infância, quando ficava doente, eu era muito teimoso. Não queria aceitar nenhum remédio a minha mãe costumava colocá-lo na minha boca à força, com uma colher. Eu era muito obstinado. Assim, da mesma maneira, eu não desejava aceitar a ordem de sannyasa, mas este meu irmão espiritual me forçou.

“Você deve.” Apayayan mam. Ele me fez tomar este remédio a força. Anabhapsu andham. Por que eu não desejava? Anabhapsu significa “não desejar” e andham significa “aquele que é cego, que não pode ver o seu futuro.” A vida espiritual é o futuro mais brilhante, mas os materialistas não podem ver isso. No entanto, os Vaisnavas e o mestre espiritual dão este remédio a força. Eles dizem: “Tome este remédio.” Apayayan mam anabhapsu andham (**)[10] Sra-Kesava-bhakti-prajnana-nama.

 

Portanto Meu irmão espiritual, Bhaktiprjnana Kesava Maharaja é krpambudhi, ele me fez este favor porque ele era um oceano de misericórdia. Portanto oferecemos nossas reverências ao Vaisnava como krpambudhi. Vancha-kalpa-tarubhyas’ca krpa sindhubhya eva ca. Os Vaisnavas, os representantes do Senhor, são muito bondosos. Eles estão trazendo o oceano de misericórida para distribui-lo para a humanidade sofrida. Krpambudhir yas tam aham prapadye. Estou oferecendo as minhas respeitosas reverências à Sua Santidade, porque ele fez com que eu aceitasse a ordem de sannyasa à força. Agora ele já não está mais neste mundo. Ele entrou na morada de Krsna. Estou-lhe oferecendo as minhas respeitosas reverências juntamente com os meus discípulos.
No primeiro dia da minha sannyasa, eu me recordo que tive que falar em inglês. Naquele dia da sannyasa, quando houve uma recepção, em primeiro lugar falei em inglês. Este foi um arranjo de Krsna, da autoridade mais elevada.

 

Estamos escrevendo isso: “Decidimos que nós, os membros abaixo assinados e devotos da Sociedade Internacional para Consciência de Krsna aqui reunidos, numa solenidade de condolências presidida por Sua Divina Graça A.C. BhaktiVedanta Swami, hoje, dia 21 de outubro de 1968, em nossa filial de Seatle, expressamos profundo pesar ao ouvirmos sobre o desaparecimento de Sua Divina Graça Om Vinupada Sri Srimad Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja, o sannyasa-guru, preceptor do nosso mestre espiritual, em 6 de outubro de 1968, em sua sede e residência em Navadvapa, Bengala Ocidental. Oferecemos as nossas respeitosas reverências aos pés de lótus de Sri Srimad Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja com o seguinte verso composto nesta ocasião pelo nosso mestre espiritual.”

vairagya-vidya-nija-bhakti-yogam
apayayan mam anabhipsu andham
Sra-Kesava-bhakti-prajnana-nama

 

Este verso eu já expliquei para vocês. Desejo que todos vocês assinem estas condolências que serão envidas amanhã pelo correio.

 

CARTA DE CONDOLÊNCIAS

 

Esta carta foi originalmente escrita em bengali por Srila A.C. BhaktiVedanta Swami Maharaja Prabhupada por ocasião do desaparecimento de Srila Bhaktiprjnanana Kesava Gosvami Maharaja. Ela foi endereçada a Srila BhaktiVedanta Trivikrama Maharaja, um dos discípulos mais proeminentes de Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja. Ela então foi traduzida para o hiadi por Srila BhaktiVedanta Naryana Maharaja e impressa na revista Sri Bhagavat Patrika em dezembro de 1968. Esta é a tradução para o português desta carta.

 

Todas as glórias para Sri Guru e Gauranga

Seatle, Washington

22 de outubro de 1968

Ofereço minhas humildes reverências prostrando-me aos pés de lótus de todos os Vaisnavas.

Sripada Trivikrama Maharaja (*)[11],

Ontem recebi sua carta datada de 12 de outubro e o conteúdo dela quebrou meu coração. Por favor me informe os detalhes do desaparecimento repentino de Pujyapada Maharaja (Srila Kesava Maharaja). Tive um relacionamento íntimo e duradouro com Srila Maharaja. Eu costumava visitar Sridhama Mayapura e era tratado muito afetuosamente por Sripada Narahari Dada (**)[12] e Sripada Vinoda Dada (***)[13]. Eles eram amigos extremamente amáveis. Também em Calcutá, o venerável Tartha Maharaja, o Professor Nishikanta Sanyala e Vasudeva Prabhu, eram muito prezados por mim. Além do mais eu costumava visitar e me associar livremente com Sripada Sridhara Maharaja como se fôssemos membros muito próximos de uma família. Com exceção de Sripada Sridhara Maharaja, todos os Vaisnavas que citei foram desaparecendo aos poucos. A nossa hora também vem se aproximando, portanto melhor seria ter a oportunidade de servir Srila Prabhupada por mais tempo possível.

Tenho uma conexão muito íntima com a Sri Gaudya Vedanta Samiti (4*)[14]. Você e particularmente Sripada Vamana Maharaja (5*)[15], estão bem a par de que sou uma das três pessoas que fundaram a Sri Gaudya Vedanta Samiti. Nós concebemos a idéia de formar a Sri Gaudya Vedanta Samiti no Bosapada Lane, Calcutá, antes mesmo de Srila (Kesava) Maharaja aceitar sannyasa. Poucos dias depois da formação da Samiti, Sri Narottamananda Brahmacara (atualmente Tridani Swami Sri Srimad Bhakti Kamala Madhusudana Maharaja) separou-se da Samiti. Naquela época Sripada Vamana Maharaja, que então era um brahmacara, visitou nosso lar em Satakanta Banarji Lane. Ele me fez presidente da revista em bengali, Sri Gaudya Patrika (6*)[16].

Respeitando a ordem de Srila (Kesava) Maharaja, comecei a escrever artigos para a Gaudya Patrika regularmente. Srila Maharaja apreciava muito tudo o que eu escrevia. Posteriormente, eu também fui designado presidente da revista em hiadi, Sri Bhagavata Patrika e muitos dos meus artigos foram publicados nela. Mais tarde não pude enviar mais artigos por falta de tempo. Agora me tornei residente em terras estrangeiras e tenho viajado vinte mil milhas todo o ano.

A grande compaixão de Srila Kesava Maharaja foi me fazer um sannyasa. Até então eu tinha feito o voto de jamais tomar sannyasa, mas Srila Maharaja me forçou a aceitá-la. Certamente hoje ele estaria muito satisfeito ao ver o sucesso da minha pregação. No ano passado eu o visitei em Calcutá juntamente com meus discípulos e apesar de ele estar acamado, ficou muito satisfeito em receber-nos. Tenho plena confiança que tanto durante sua presença manifesta quanto depois do seu desaparecimento, ele deve estar muito satisfeito ao ver minha ampla pregação da mensagem de Sriman Mahaprabhu pelos países ocidentais como América, Canada, Inglaterra, Alemanha e Hawaí (Honolulu), situado no Oceano Pacífico, bem como em países orientais como Japão (Tokyo) e outros.

Eu era um grhamedi empacado (alguém cuja inteligência vive absorta em afazeres domésticos). Srila Prabhupada costumava me aparecer em sonhos periódicamente e chamava-me para renunciar a vida familiar e ir ter com ele. Os sonhos me deixavam assustados e me faziam imaginar que eu deveria aceitar sannyasa. Eu não tinha nenhum desejo em tomar sannyasa. Mas devido à repetida insistência de Sripada Naryana Maharaja, Srila Kesava Maharaja concedeu a sua misericórdia ilimitada para esta pessoa desmotivada e cega, dando-me sannyasa a força. Parece que o desejo de Srila Prabhupada foi transmitido para o seu coração, e desta forma a minha sannyasa foi realizada.

Portanto estou eternamente endividado com Srila (Kesava) Maharaja. Assim sendo, imediatamente depois de receber a sua carta, organizei um viraha-sabha, um encontro no templo de Seatle em honra ao seu desaparecimento. Estou enviando a resolução de condolências do encontro juntamente com esta carta. Por favor aceitem-na como nosso Sraddhanjali, nossa humilde homenagem. Em meus outros centros (a lista está incluída) particularmente em Londres, Hamburgo e Honolulu dei instruções para providenciarem uma viraha-sabha e também que oferecessem a homenagem Sraddhanjali.

Você ficará feliz em saber que sob minha direção formei três grupos de Sankirtana reunindo jovens e casais americanos. Um destes grupos agora está viajando por todas as cidades da América e também estou com este grupo. O segundo grupo de seis devotos está realizando Kirtana em diferentes locais de Londres. Os indianos que vivem lá estão surpresos ao vê-los. Eles abandonaram a sua terra natal e vieram para o distante mundo Ocidental para ganhar dinheiro e reputação, mas os americanos estão fazendo harinama-Sankirtana. De uma maneira geral as atividades de pregação estão indo muito bem. Estou interessado em saber que tipo de constituição vocês estão formando. Quanto a este assunto você receberá minha completa cooperação porque sou um homem de idéias construtivas. Não gosto de políticas destrutivas.

O desejo de Srila Prabhupada e de Srila Bhaktivinoda Thakura era que os americanos realizassem Kirtana em Sridhama Mayapura e agora chegou esta oportunidade. Infelizmente aqueles que se intrometeram em Mayapura a consideram sua propriedade pessoal. Atualmente eles restringem a visita de outras pessoas a este local. Srila Kesava Maharaja costumava tratar com estes guru-tyagas (aqueles que renunciam ao guru) e com os guru-bhogas (aqueles que desfrutam da propriedade do guru) com a espada nas mãos. De qualquer maneira, no ano passado ele mencionou que iria me arrumar cinco acres de terra em Sridhama Mayapura. Você estava presente nesta ocasião. Se você me ajudar neste assunto, pretendo fazer um Asrama em Mayapura. Meninos e meninas americanos poderão visitá-lo, permanecer ali e receber treinamento apropriado. Com a sua coloboração, as atividades de pregação poderão ser feitas muito bem. Portanto, estou ansioso em saber os detalhes da sua constituição.

Estou indo para Montreal amanhã. De lá irei para Santa Fé (Novo México) e depois para Los Angeles. Estou enviando os endereços dos vários centros juntamente com esta carta. Estamos executando um plano de construir Nova Vrindavana em trezentos acres de terra. Por favor responda para o endereço de Los Angeles-Hollywood pois vou estar três dias em Montreal, sete dias em Santa Fé e cerca de um mês em Los Angeles.

prthivate ache yata nagaradi grama

sarvatra pracara haibe mora nama

A pregação pode se difuadir estensivamente pelo mundo com base neste sistema. Creio que vocês vão fazer a sua constituição diretamente de acordo com esta previsão. Espero que seu bhajana esteja indo bem.

Seu servo obediente,

Sri BhaktiVedanta Swami

 

PS: Se você tiver alguma foto de Srila Maharaja, então me envie por favor. Mandarei fazer um quadro pintado a óleo em tamanho natural dele, e, juntamente com um quadro de Srila Prabhupada, eu o colocarei nos meus centros mais proeminentes, particularmente Nova Iorque, Hollywood, Londres e outros. (fim da carta)

 

A MESMA SIDDHANTA, A MESMA LINHA

 

Srila Naryana Maharaja estabelece que a mensagem e a missão de Srila BhaktiVedanta Swami Prabhupada é a mesma que a de Sri Caitanya Mahaprabhu e Seus seguidores, como os Srila Rupa Gosvami e Srila ViSvanatha Cakravarta Thakura. Srila Prabhupada era muito apegado aos comentários de Srila Visvanatha Cakravarta Thakura e ele os cita profusamente em seus livros, particularmente no Bhagavad-Gita, Srimad Bhagavatam e Caitanya-caritamrta.

 

Este capítulo é uma cópia da introdução que Srila Naryana Maharaja fez para o seu Venu-Gita em inglês. Lá ele ilumina a Siddhanta Gaudya, como Srila Prabhupada veio dar a este mundo.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O Srimad Bhagavatam é uma manifestação direta do Senhor Supremo. Ele é ambrosíaco, um transbordante oceano de amor nectáreo (prema-rasa) por svayam Bhagavan Vrajendranandana Sri Krsna, a personificação da rasa divina. Os bhaktas rasikas e bhavukas vivem imersos neste oceano. O Srimad Bhagavatam é o fruto completamente maduro da árvore dos desejos da literatura védica que compreende o pensamento iadiano inteiro. No Srimad Bhagavatam, gopa-prema foi estabelecido como sendo o objetivo final.

Algumas ondas agitadas de gopa-prema podem ser vistas na porção do VeNu-Gita do Srimad Bhagavatam. Os bhaktas rasikas mergulham nestas ondas e perdem toda a consciência de seus corpos. O desejo ardente de imergir neste oceano surge até nos corações dos devotos fervorosos que estão situados na beira deste oceano.
Sri Caitanya Mahaprabhu, a forma combinada de rasaraja e mahabhava, resplandecente com o sentimento e a compleição corpórea de Sri Radha, saboreou o néctar do VeNu-Gita com Sri Svarupa Damodara e Sri Raya Ramananda‚ no Sri Gambhara. Srila Sanatana Gosvami e Srila JIva Gosvami coletaram algumas gotas deste néctar em seus comentários sobre o Srimad Bhagavatam, entitulados Brhat Vaisnava To
ani e Laghu ViNava Toani respectivamente. Srila ViSvanatha Cakravarta μhakura, através do seu comentário denominado Sarartha-darSini, distribuiu para o mundo todo o mesmo néctar na forma dos restos de sua mahaprasada.

Algumas pessoas acreditam que sadhakas desqualificados são inelegíveis para ouvir, cantar ou lembrar dos tópicos do VeNu-Gita, Sri Rasa-pancadhyaya, Yugala-Gita, Brahmara-Gita, etc., como descritos no Décimo Canto do Srimad Bhagavatam. Esta consideração é completamente legítima. Mas de acordo com esta consideração, apenas o sadhaka que tenha conquistado os seis impulsos (kama, krodha, etc.), que está livre de todos os anarthas e com o coração completamente purificado da doença da luxúria, é elegível para ouvir estes tópicos, enquanto que todos os outros não têm este direito. Agora iremos examinar este tópico bem detalhadamente.

Srila Rupa Gosvami, que estabeleceu e satisfez o desejo íntimo do coração de Sri Caitanya Mahaprabhu, compôs o Sri Bhakti-rasamrta-sindhu, o Sri Ujjvala-nalamaNi e outros textos sagrados. Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami compôs o Sri Caitanya-caritamrta. Enquanto escreviam eles estavam profundamente preocupados que estes textos confidenciais sobre rasa caíssem nas mãos de pessoas desqualificadas. Se isso ocorresse, poderia causar um grande distúrbio no mundo. Uma indicação deste assunto é encontrada no Sri Caitanya-caritamrta (adi-lala: 4.231), conforme declara Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami:

e saba Siddhanta gudha, — kahite na yuyaya
na kahile, keha ihara anta nahi paya

ataeva kahi kichu kariNa niguha
bujhibe rasika bhakta, na bujhibe mu
ha

hrdaye dharaye ye caitanya-nityananda
e-saba siddhante sei paibe ananda

e saba Siddhanta haya amrera pallava
bhakta-gaNa-kokilera sarvada vallabha

abhakta-utrera ithe na haya praveSa
tabe citte haya mora ananda-visesa

ye lagi kahite bhaya, se yadi na jane
iha vai kiba sukha ache tribhuvane

ataeva bhakta-gaNe kari namaskara
nimSanke kahiye, tara hauk camatkara

 

“ Não convém que as conclusões esotéricas e confidenciais sobre os passatempos amorosos de rasaraja Sri Krsna com as gopas, que são corporificações de mahabhava, sejam reveladas para os homens ordinários e comuns. Mas, se elas não forem reveladas, ninguém poderá entrar neste assunto. Portanto, devo descrever estes temas de maneira velada para que somente rasika-bhaktas sejam capazes de compreendê-los, enquanto que os tolos inelegíveis serão incapazes”.

 

“Quem quer que tenha estabelecido Sri Caitanya Mahaprabhu e Sri Nityananda Prabhu em seu coração, alcançará bem-aventurança transcendental por ouvir todas estas conclusões. Toda esta doutrina é tão doce quanto um tenro broto de manga que só pode ser saboreado por devotos que se comportam como os cucos. Para aqueles devotos que se comportam como camelos, não há possibilidade de ingressar nestes temas. Portanto, existe um júbilo especial em meu coração”.

 

“Se aqueles que eu temo são incapazes de compreender estes temas, então o que poderia ser a maior felicidade para os três mundos? Depois de oferecer reverências aos devotos, estou revelando este assunto sem qualquer hesitação.”

 

Por ler e ouvir estes temas, todos podem alcançar o benefício mais elevado. Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami esclareceu este tema citando o seguinte verso do Srimad Bhagavatam (10.33.36):

 

anugrahaya bhaktanam manuam deham aSritam
bhanate tadrSam kra
a Srutva tatparo bhavet

“Para poder conceder misericórdia aos devotos, bem como para as almas coadicionadas, Bhagavan Sri Krsna manifesta a Sua forma humana e realiza passatempos tão extraordinários (rasa-lila) que todos aqueles que os ouvirem tornam-se exclusivamente devotados a Ele.” (Cc., adi-lala, 4.34)

Aqui Krsnadasa Kaviraja destaca que o verbo bhavet no verso acima está no modo imperativo. Assim sendo, é compulsório para as Jivas ouvir estes passatempos, como explicado no seguinte Sloka do Caitanya-caritamrta (adi-lala: 4.35):

 

‘bhavet’ kriya vidhilin, sei iha kaya
kartavya avaSya et, anyatha pratyavaya

 

“No verso acima bhavet está no modo imperativo. Portanto, isso é efetivamente para ser feito. Não fazer isso é uma discrepância.”

 

Para informação do leitor, estou citando aqui o comentário de Srila Jiva Gosvami sobre o verso 10.33.36 do Srimad Bhagavatam, feito em seu livro Vaisnava Toani.

 

As palavras anugrahaya bhaktanam manuam deham aSritam indicam que o Supremo Senhor Sri Krsna aparece em Sua forma original semelhante a um ser humano e realiza vários passatempos para favorecer Seus devotos. Portanto, apesar de Sri Krsna estar satisfeito consigo mesmo (aptakama), Sua demonstração de bondade para os devotos é bastante apropriada. Esta é a característica que distingue visuddha-sattva (bondade pura). O Senhor está sempre preparado para recompensar os devotos com um resultado consistente da sua realização de bhajana. O favor exibido ao rei Rahugana por Sri Jaa Bharata e o favor do Senhor a Sukadeva Gosvami ilustram isso.

 

No verso em discussão, está dito que o Senhor manifesta a Sua forma e passatempos para poder favorecer Seus devotos. A palavra bhakta usada aqui se refere as vrajadevas (gopas), aos vrajabasis (residentes de Vraja) e a todos os outros Vaisnavas no presente, passado e futuro. Para favorecer as vrajadevas, svayam Bhagavan Sri Krsna executa amorosamente passatempos como o purva-raga (o apego em antecipação do encontro com Krsna antes da sua união). Para conceder misericórdia a todos os residentes de Vraja, Ele encena o Seu nascimento e os outros passatempos, e através de todas as Suas atividades, Ele favorece os devotos do presente, passado e futuro por intermédio da audição de lala-katha.

 

Sri Krsna manifesta todos estes passatempos para beneficiar os devotos. Ao fazer isso, até mesmo as pessoas comuns (que ainda não são devotas) que ouçam até mesmo o passatempo mais comum do Senhor se tornam completamente inclinadas pelo Senhor. Portanto, por ouvir a supremamente ambrosíaca rasa-lala, as pessoas comuns acabarão se tornando exclusivamente devotadas ao Senhor — quanto a isso não há dúvida. Este fato será elaboradamente discutido nos versos subsequentes tais como o vikraitam vraja vadhubhir idan ca visnom (Bhag. 10.33.39).

 

As palavras manuam deham aSrutam também podem indicar que aquelas Jivas que alcançaram a forma humana de vida, são capazes de ouvir todos estes passatempos e desta maneira elas acabam se tornando exclusivamente devotadas ao Senhor Supremo. Isso ocorre porque o Senhor encarna exclusivamente nos planetas terrestres (martya loka) e somente aqui, a adoração ao Senhor assume esta forma predominante. Consequentemente, os seres humanos residindo nos planetas terrestres podem ouvir facilmente estas narrativas dos passatempos do Senhor.

 

A palavra bhaktanam aparece neste verso. Mas em algumas outras edições, é encontrada a palavra bhutanam no lugar dela. Neste caso o significado do verso é o seguinte: o Senhor encarna apenas por causa dos devotos. Como resultado, os devotos são a causa que motiva o aparecimento do Senhor. O Senhor também aparece com a Sua forma humana original para conceder o Seu favor às almas liberadas (muktas), aspirantes à liberação (mumukus); desfrutadores dos sentidos (viayas) e todas as entidades vivas de acôrdo com o seu relacionamento com os devotos. Em outras palavras, o Senhor concede o Seu favor para as Jivas apenas devido à conexão delas com os devotos.

 

No seu comentário do Bhagavatam conhecido como Bhuvartha-dipika, Srila Sridhara Svama escreveu que o que dizer dos devotos, se até mesmo as pessoas materialistas se liberam da sua absorção material por ouvirem os passatempos do Senhor e desta maneira tornam-se exclusivamente atentas sobre Ele.

 

Srila Visvanatha Cakravarta Thakura explica este verso no seu comentário conhecido como Sarartha-darsini:

 

bhaktanam anugrahaya tadrSam kraam bhajate yam Srutva
manu
am deham aSrito Jivam tatparas tad viayakam
Sraddhavan bhaved iti kra
antar ato vailakanyena madhura
rasamayam asyam kra
ayas tadrSa mani-mantra-mahauadhanam Ivã kacid atarkya Saktir astity avagamyate

“O Senhor realiza vários passatempos para favorecer os Seus devotos. Tendo adotado a forma humana de vida, as entidades vivas que ouvirem estes passatempos se tornam exclusivamente devotadas ao Senhor. Em outras palavras, elas desenvolvem firme fé nas narrativas das atividades do Senhor. O que mais posso dizer sobre a importância de ouvir lala-katha? E esta rasa-lala, por estar completamente dotada de madhurya-rasa, distingue-se de forma mais proeminente dos outros passatempos do Senhor. Como uma jóia, um mantra ou um remédio poderoso, esta rasa-lala está dotada de uma potência insuperável, surpreendente, e por ouvi-la, todas as pessoas se tornam devotadas ao Senhor Supremo. Portanto, todas as variedades de devotos que ouvirem as descrições destes passatempos alcançarão o sucesso e obterão o prazer supremo. Pode haver alguma questão ou qualquer dúvida a este respeito?”

 

Neste contexto, podemos citar o seguinte verso do Srimad Bhagavatam (10.33.30):

naitat samacarej jatu manasapi hy aniSvaram
vinaSyaty acaran mau
hyad yatha rudro ‘bdhijam viam

 

“Em outras palavras, aqueles que não são asvara, O Senhor Supremo, que não têm poder e que estão sujeitos ao karma, nunca devem imitar os passatempos do Senhor nem mesmo mentalmente. Se algum tolo tenta imitar o Senhor Siva bebendo o veneno gerado do oceano, certamente será destruído.”

 

A essência dos comentários de Srila Jiva Gosvami e de Srila Visvanantha Cakravarta Thakura sobre este verso é que as entidades vivas que são subservientes ao corpo material e que são anasvara — sujeitas ao controle da potência ilusória do Senhor — nunca devem se comportar desta maneira nem sequer mentalmente. Para não dizer sobre realizar tais atividades, não devemos sequer desejar realizá-las. Em outras palavras, estas atividades realizadas pelo Senhor, transgredindo todos os códigos religiosos, não devem ser contempladas sequer mentalmente.

A palavra samacarana (comportamento), quando dividida em suas partes componentes (samyak e acarana), indica comportamento completo. Aqui ela foi utilizada para indicar proibição total desta atividade. Portanto, o significado é que tal comportamento não deve ser adotado mesmo da maneira mais discreta. O que dizer de realizar estas atividades com a fala ou com os sentidos, se não devemos sequer conceber mentalmente tais atividades?

A palavra hi indica certamente que isso não deve ser feito. Se alguém se comportar desta maneira, poderá ser completamente destruído. O significado da palavra maudhyad (estupidez) é que se alguém, sendo ignorante da onipotência do Senhor, adotar este comportamento por tolice, ele acabará sendo arruinado. Assim como alguém que não seja o Senhor Siva por tolice ingerir veneno letal, será instantaneamente destruído. Mas o Senhor Siva, apesar de beber veneno, não é destruído; pelo contrário, ele adquire mais fama e esplendor como Nalakan˜ha, ou aquele cuja garganta ficou azul por beber veneno.

 

Aqui neste verso, a imitação deste comportamento foi proibida, no entanto no verso seguinte (10.33.36) — yam Srutva tat paro bhavet — fica evidente que não apenas devotos, mas até mesmo outras pessoas que ouvirem com fé estes passatempos acabarão se devotando completamente ao Senhor Supremo. Isso foi explicado no seguinte verso do Srimad Bhagavatam (10.33.39):

 

vikraitam vraja vadhubhir idan ca viNoh
Sraddanvito ‘nuSrNuyad atha varNayed yam
bhaktim param bhagavati pratilabhya kamam
hrd-rogam aSv apahinoty acireNa dharam

 

“Uma pessoa séria que começa a ouvir continuamente e com fé, do seu guru as narrativas da inigualável dança da rasa do Senhor Sri Krsna com as jovens esposas de Vraja (gopas) e que mais tarde repete estes passatempos, em breve alcança para-bhakti ou prema-bhakti pelo Senhor e desta maneira se torna competente para dissipar rapidamente a doença do coração chamada luxúria.”

 

Aqui Srila JIva Gosvami faz um comentário no Vaisnava Toani: Tendo concluído a narrativa da rasa-lala, Sukadeva Gosvami ficou profundamente imerso em êxtase espiritual. Neste verso, ele descreve os frutos de ouvir e cantar a rasa-lala e abençoa todos os futuros ouvintes e recitadores. Aqueles que incessantemente e com fé ouvirem a rasa-lala de Sri Krsna com as jovens esposas de Vraja, e mais tarde recitarem estes passatempos, alcançam rapidamente para-bhakti por Bhagavan Sri Krsna e desta maneira se curam da doença do coração chamada luxúria”.

Sraddhanvita significa ouvir com fé inabalável. Esta palavra foi usada para previnir a ofensa que resulta de não acreditar (avisvasa) ou desconsiderar (avajna) as declarações do Sastra — em oposição completa ao princípio de ouvir com fé. Ela também foi usada para promover a leitura constante. Esta palavra destaca a importância de ouvir (ler). As palavras atha varnayed indicam que depois de ouvir continuamente a rasa-lala juntamente com outros passatempos especiais, devemos descrever estes passatempos. Por upalakana, ou implicação iadireta, também está indicado que depois de ouvir e recitar, devemos nos lembrar destes passatempos e ficar muito satisfeitos em ouvi-los. Em outras palavras, ouvir, cantar, lembrar, experimentar satisfação e assim por diante, está tudo sendo implicado pelas palavras Sraddhanvitam anuSrNuyat atha varNayed (ouvir repetidamente com fé e então descrever).

Para-bhakti quer dizer bhakti que segue o humor das gopas de Vraja. Portanto, o bhakti referido aqui é prema-bhakti, ou da mais alta categoria. A palavra pratilabhya (obtido repetidamente), juntamente com a palavra para-bhakti, indica que primeiro para-bhakti (possuindo a característica marcante de prema) é obtido no coração a cada momento em variedades sempre novas. Depois disso alcançamos rapidamente a cura da doença do coração chamada luxúria.

Aqui é salientada a diferença entre kama (luxúria material) como uma doença do coração e kama (amor espiritual) em relação ao Senhor Supremo. Estas duas são diferentes uma da outra. A palavra kama aqui implica iadiretamente que todas as doenças do coração serão rapidamente dissipadas. 

No Bhagavad-Gita (18.54) está declarado: “Aquele que está situado numa posição transcendental, além da contaminação dos três modos da natureza (brahma-bhuta), que está completamente satisfeito no eu, que não se lamenta nem deseja nada, que contempla imparcialmente todas as entidades vivas, alcança para-bhakti por Mim”.

Neste verso do Gita está declarado que se alcança para-bhakti somente depois de terem sido curadas as doenças do coração, mas o que acabamos de discutir é que pode-se alcançar para-bhakti até antes disso. Consequentemente, devemos compreender que ouvir e cantar sobre a rasa-lala é uma das formas mais poderosas de sadhana.

Srila ViSvanatha Cakravarta Thakura declara o seguinte, no seu comentário Sarartha-darSini sobre o mesmo verso (10.33.39):

“O prefixo anu (repetidamente ou metodicamente) quando aplicado a Srnuyat (ouvir) indica ouvir constantemente. Por ouvir constantemente dos lábios de um SravaNa-guru e dos Vaisnavas, e depois recitar, narrar, ou descrever (estes passatempos) em poesia de sua composição pessoal, se alcança para-bhakti — em outras palavras, o bhakti que tem a natureza de prema (prema-lakaNa-bhakti).

O sufixo ktva está sendo usado em conjunto com o verbo pratilabhya (obtido) da seguinte maneira: prati+labh+ktva. De acordo com as palavras da gramática sânscrita, quando o sufixo ktva é aplicado à raiz verbal com um prefixo, ela é trocada por yap. Então a letra “p” é retirada e assim se obtém a palavra pratilabhya. O sufixo krva é aplicado ao primeiro dos dois verbos com a aplicação do mesmo agente para indicar ação sucessiva (isto é, tendo obtido prema, ele faz com que ocorra a cura de todas as doenças do coração). Neste caso, a primeira ação é pratilabhya (alcançar prema) e a segunda ação é apahinoti (renúncia aos desejos luxuriosos do coração).

Portanto, o sufixo ktva no verbo pratilabhya indica que apesar da luxúria e de outros males ainda permanecerem no coração, prema-bhakti entra primeiro no coração e devido a sua influência extraordinária destrói todos os vícios pela raiz. Em outras palavras, ouvir e recitar a rasa-lala possui tamanho poder que a luxúria do coração do sadhaka fervoroso é destruída e ele alcança prema. Apesar destas duas coisas ocorrem simultaneamente, a influência do prema se manifesta primeiro, e através do seu efeito, todos os desejos luxurirosos do coração são dissipados.

Desta maneira, como resultado do ouvir e cantar as narrativas dos passatempos do Senhor, primeiro se adquire prema pelos pés de lótus do Senhor e depois o coração é liberado dos desejos luxuriosos e das outras contaminações. Em outras palavras o devoto se torna completamente puro porque prema não é um processo instável como jnana e yoga. Bhakti é onipotente e supremamente independente.

 

As palavras hrd-roga-kama indicam a diferença entre os desejos luxuriosos do coração e a kama relacionada com o Senhor Supremo. Kama que está relacionada com o Senhor Supremo tem a mesma natureza do néctar de prema (premamrta svarupa), enquanto que os desejos luxuriosos do coração têm a natureza exatamente oposta. Portanto, estes dois itens são diferentes um do outro. Isso fica bem estabelecido com o emprego das palavras hrd-roga kama.

A palavra dhira significa paNita, ou quem é versado nos Sastras. Quem não acredita no que declara este verso e pensa: “Enquanto a doença da luxúria permanecer no coração, prema não pode ser obtido,” possui um temperamento ateísta. Quem está livre desta tendência tola, ateísta, é chamado paNita, ou uma pessoa séria (dhara). Consequentemente, apenas aqueles que têm fé firme nos Sastras são considerados dhara. Aqueles que não têm fé no que declaram os Sastras são ateus e ofensores dos Santos Nomes. Estas pessoas nunca podem obter prema.

Consequentemente, no coração dos sadhakas que acreditam piamente nas declarações dos sastras, a fé desponta por ouvir a rasa-lala e as outras narrativas. O prema se manifesta apenas nos corações destes devotos que têm fé, e a manifestação dele é resultado de ouvir lala-katha. Depois disso, a luxúria e todos os outros males que estão presentes nos corações dos devotos são destruídos pela raiz.

O comentário de Srila ViSvanatha Cakravarta Thakura sobre o Srimad Bhagavatam (10.47.59) também é relevante nesta discussão. Ali está declarado que bhakti é a única causa das qualidades superiores que são encontradas em qualquer iadivíduo. Austeridades, erudição, conhecimento e tudo mais não são a causa de qualidades superiores. Apesar de bhakti por si só ser completamente satisfatória, ela não aparece apenas naqueles iadivíduos excepcionais dotados de todas as qualidades. Pelo contrário, ela se manifesta e permanece até mesmo em pessoas condenadas e patifes. Além do mais, ela faz com que estas pessoas maléficas e caídas alcancem todas as qualidades, se tornam dignas do respeito de todos, e alcançam as associações mais raras e elevadas.

Por este motivo, a opinião que Bhaktideva só entra no coração depois que todos os anarthas, aparadhas, luxúria e outros males do coração tenham sido erradicados, não é apropriada. Pelo contrário, pela misericórdia do Senhor Supremo ou dos devotos, ou por executar com fé sadhana e bhajana, este raro bhakti entra no coração primeiro e é depois que os anarthas desaparecem automáticamente — esta é a opinião mais abalizada.

Portanto, apenas os sadhakas que têm fé inabalável no que declaram os Sastras, o guru e os Vaisnavas são elegíveis para ouvir a lala-katha do Srimad Bhagavatam que está saturada de rasa. E de maneira oposta, aqueles que acreditam que apenas os sadhakas que estão completamente livres de todos os anarthas são elegíveis para ouvir estes passatempos, não se livrarão dos anarthas e nem alcançarão a elegibilidade para ouvir — mesmo depois de milhões de nascimentos.

 Outro ponto a ser considerado é que se este argumento for aceito, então nós, sadhakas, que ainda somos afetados pelos anarthas, apesar de possuirmos fé, jamais deveríamos ouvir ou ler os livros sagrados de rasikas Gaudya Vaisnavas como Srila Sanatana Gosvami, Srila Rupa Gosvami, Srila ViSvanatha Cakravarta Thakura e Srila Bhaktivinoda Thakura. Numa situação destas, estaríamos privados eternamente das verdades de bhakti, extremamente confidenciais e elevadas, que foram reveladas por estes Acaryas. Não haveria a menor possibilidade de surgir em nossos corações o desejo em praticar raganuga-bhakti. Desta maneira estaríamos privados eternamente de receber o que o munificiente Sri Sacanandana veio dar: prema-rasa, Krsna-prema. Então qual seria a diferença entre os Vaisnavas que se abrigaram na Gaudya sampradaya e dos Vaisnavas das demais sampradayas?

O terceiro ponto a ser considerado é o seguinte. No Sri Caitanya-caritamrta (Madhya-lala: 8.70) está citado o seguinte verso do Padyavala:

Krsna-bhakti-rasa-bhavita matim
krayatam yadi kuto’pi labhyate
tatra laulyam api mulyam ekalam
janma-ko˜i-skrtair na labhyate

Aqui, as palavras laulyam api mulyam ekalam (na verdade o único requisito é a avidez) indicam que esta avidez extremamente rara não pode ser obtida com resultado de atividades piedosas acumulados em milhões de vidas. Então como alcançar esta avidez? As palavras Krsna-bhakti-rasa-bhavita matim indicam aquele cuja inteligência ou percepção foi despertada através de Krsna-bhakti-rasa. Aqui, a implicação é que por ouvir com fé as narrativas dos passatempos de Krsna saturados de rasa dos lábios de Vaisnavas rasikas em quem Krsna-bhakti-rasa foi despertado, ou por estudar com fé e atentamente a literatura que relata os passatempos de Sri Krsna compostas por estes devotos, então esta avidez pode ser obtida. Além destes, não existem outros meios.

 

Outro argumento, que atualmente não existe nenhum sadhaka que esteja completamente livre de anarthas e, portanto, ninguém é elegível, e que nem no futuro alguém será elegível, é completamente ilógico. A liberação da luxúria e de todos os outros anarthas como um fim em si mesmo não é a qualificação para se entrar em raganuga-bhakti. Pelo contrário, a avidez que surge pela doçura do Senhor (madhurya) é a única qualificação para entrar em raganuga-bhakti. Nem pode haver qualquer certeza de que apenas por se seguir todo o processo de regras e regulações prescritos em vaidha-bhakti, seja automaticamente despertada a avidez em praticar raganuga-bhakti. Não há evidência disso em local algum. Portanto, nossa obrigação mais elevada é seguirmos os significados que os Acaryas anteriores deram para os versos que citamos do Srimad Bhagavatam.

 

Por inspiração de Sua Divina Graça guru-pada-padma nitya-lala-pravita om vinupada a˜ottara-Sata Sri Srimad Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja e devido a insistência de inúmeros devotos que se comportam como abelhas zumbindo, estou apresentando o Sri VeNu-Gita para os leitores juntamente com os comentários de Srila Cakravarta Thakura e de Srila JIva Gosvami, chamados Saratha-darSina e Sri Vaisnava Toani respecitivamente. Por ler este assunto com fé completa, a avidez de entrar em raganuga-bhakti certamente brotará nos corações dos devotos fervorosos. Este é o principal propósito da vida humana.

 

Esta é uma apresentação do que Srila BhaktiVedanta Swami Prabhupada escreveu sobre o mesmo tema, encontrada no livro Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, cap. 32.

 

Sukadeva Gosvami conclui este episódio da rasa-lala salientando que se uma pessoa ouve da fonte apropriada sobre os passatempos de Krsna, que é o próprio ViNu, com as gopas, que são expansões de Sua energia, então ela ficará aliviada do tipo mais perigoso de doença, denominada luxúria. Se alguém ouve sobre a rasa-lala de verdade, se livrará completamente do desejo luxurioso de vida sexual e se elevará para o nivel mais elevado de compreensão espiritual. Geralmente, porque as pessoas ouvem dos mayavadas e por elas mesmas serem mayavadas, elas ficam cada vez mais envolvidas com a vida sexual. A alma coadicionada deve ouvir sobre a rasa-lala de um mestre espiritual competente e ser treinada por ele para que possa compreender a situação inteira. Desta maneira a pessoa pode ser elevada para a plataforma de vida espiritual mais elevada; de outra forma ficará envolvida materialmente. A luxúria material é um tipo de doença do coração e para curar a doença material da alma coadicionada, está recomendado que ela deve ouvir, mas não dos patifes impersonalistas. Se ouvir da fonte apropriada com a compreensão correta, então a situação será diferente.

Sukadeva Gosvami usou a palavra Sraddhanvita para aquele que está treinado na vida espiritual. Sraddha, ou fé, é o começo. Quem desenvolveu fé em Krsna como a Suprema Personalidade de Deus, a Alma Espiritual Suprema, pode tanto descrever quanto ouvir. Sukadeva também usa a palavra anuSrNuyat. Devemos ouvir da sucessão discipular. Anu significa “seguir”, e anu significa “sempre.” Portanto devemos sempre seguir a sucessão discipular e não ouvir de qualquer recitador profissional desgarrado, de mayavadas ou um homem comum. Anusrnuyat significa que devemos ouvir de uma pessoa competente que esteja na sucessão discipular e que sempre esteja dedicada à consciência de Krsna. Quando uma pessoa deseja ouvir desta maneira, então o efeito será certo. Por ouvir rasa-lala, a pessoa será elevada para a mais alta posição da vida espiritual.

Sukadeva Gosvami usa duas palavras específicas: bhaktim e param. Bhaktim-param significa execução de serviço devocional acima do estágio de neófito. Aqueles que estão simplesmente atraídos pela adoração no templo mas não conhecem a filosofia de bhakti estão no estágio neófito. Este tipo de bhakti não é o estágio de perfeição. O estágio de perfeição em bhakti, ou serviço devocional, está completamente livre de contaminação material. O aspecto mais perigoso de contaminação é a luxúria, ou vida sexual. O serviço devocional bhaktim-param é tão potente que quanto mais avançamos nesta linha, mais vamos perdendo a atração pela vida material. Quem está realmente recebendo o benefício de ouvir sobre a rasa-lala com certeza alcança a posição transcendental. Ele com certeza perde todo indício de luxúria em seu coração.

 

 

 

KRSNA, O OCEANO DE RASA

 

Aula ministrada por Sri Srimad BhaktiVedanta Naryana Maharaja no dia 16 de maio de 1997, em Nova Braja (Badger), Califórnia, USA.

 

POR CAUSA DE SUA DIVINA GRAÇA

Estou muito feliz em voltar para Nova Vraja (Badger) e ver que os devotos aqui estão com tanta energia. Por causa de Sua Divina Graça Sri Srimad BhaktiVedanta Svami Maharaja, aqui foi estabelecida uma vila de devotos, a milhares de quilômetros de Vrindavana.

Não somente aqui, mas onde quer que eu vá, pelo mundo inteiro, quer seja no Ocidente quer seja no Oriente, vejo os resultados da inspiração que ele deu. Num lugar bem remoto do Canadá, no meio de uma floresta nas montanhas, fui a uma vila de devotos chamada SaraNagati; e fiquei muito satisfeito em ver ali inúmeros devotos seguindo o varnAsrama-dharma e os princípios de bhakti. Eu também estive numa vila remota na Austrália, que também fica nas montanhas, um local muito belo. Lá estava chovendo e era sempre vasanta, primavera. Apesar deste local estar tão distante da Índia, pela misericórdia de Swami ji, devido à pregação dele, ali foi estabelecida uma grande vila de devotos. Lá todo mundo estava muito inspirado: mulheres, homens, pessoas idosas e até mesmo menininhos e menininhas, todos usando tilaka e Kanthi-mala. E todo mundo estava cantando, dançando e lembrando em consciência de Krsna.

 

Srila Muni Maharaja, Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja e

Srila BhaktiVedanta Swami Prabhupada.

 

 17 de Setembro de 1959,

 

dia em que Srila BhaktiVedanta Swami Prabhupada tomou sannyasa.

 

Nem mesmo na Índia costumamos ver tamanha exibição de energia entusiasmante. Mas aqui estou vendo isso em todo lugar, e este é o milagre de Swami ji (*)[17]. Sem vir realmente para estes lugares e sem ver pessoalmente o que ele fez, fica difícil de se imaginar. Eu já tinha muita fé nele, mas quando vim para cá e visitei estes lugares, minha fé e admiração por ele ficaram ainda mais fortes. Não apenas fortes, mas fortíssimas.

Devemos compreender que por trás de Srila Prabhupada está a sua guru-varga, a sucessão discipular — Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura, Srila Bhaktivinoda Thakura, Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami, Srila Svarupa Damodara, Srila Raya Ramananda e Sri Caitanya Mahaprabhu. Agindo pelas mãos deles, como um instrumento deles, Srila Swami Maharaja não veio para cá para fazer a sua missão independente. Ele veio propagar a missão de seus queridos Radha e Krsna e de Gaura-Nityananda, e particularmente a missão de Srila Svarupa Damodara, Srila Raya Ramananda e Srila Rupa Gosvami.

 

QUEM É SRI CAITANYA MAHAPRABHU?

A poucos anos atrás, em Vrindavana, expliquei algumas Siddhantas importantes, mas os devotos em geral não compreenderam.

Anarpita-caram cirat karunayavatarnah kalau. Depois de um longo período, depois de um dia completo de Brahma, que perfaz mil ciclos de Kali-yugas, Sri Caitanya Mahaprabhu apareceu. Ele é o próprio Krsna, mas com a beleza e o humor de Srimata Radhika. Como forma combinada de Sri Radha e Krsna, Ele é rasaraja-mahabhava. Talvez vocês já tenham ouvido este nome antes. Ele contém uma descrição muito especial e esotérica da forma de Sri Caitanya Mahaprabhu Sacanandana Gaurahari, dada no Sri Caitanya Caritamrta.

O Senhor Caitanya apareceu em Mayapura, em Sri Navadvapa-dhama, apenas para dar o tesouro mais bem guardado e confidencial. Até mesmo para devotos altamente avançados como Sanaka, Sananda, Sanatana e Sanat-kumara, para Prahlada Maharaja e até mesmo para Narada e Uddhava, este tesouro é muito misterioso. O Senhor Caitanya veio para distribuí-lo com as Suas próprias mãos — não apenas com as Suas próprias mãos, mas também com milhões e milhões de mãos. Em outras palavras, todos os devotos de Sri Caitanya Mahaprabhu são as Suas mãos.

Os associados do Senhor não consideram a qualificação de ninguém. Até mesmo os tigres, ursos, serpentes, trepadeiras e árvores — quem quer que tenha visto o amoroso aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu, e quem quer que O tenha ouvido dizer: “Ó Krsna, onde está Você? Onde Você está? Ó Radhika, onde Você está?” — se tornaram devotos. Eles começavam a cantar e a chorar e receberam Krsna-prema. Desta maneira, Sri Caitanya Mahaprabhu desceu a este mundo particularmente para dar este prema. Ele não veio apenas estabelecer o yuga-dharma, ou para simplesmente atuar como um bhakta-raka, protegendo os Seus devotos dos demônios. O propósito principal da Sua vinda era o de estabelecer isso:

 

anarpita-caram cirat karuNayavatarNam kalau
samarpayitum unnatojjvala-rasam sva-bhakti-Sriyam
harum pura˜a-sundara-dyuti-kadamba-sandapitam
sada hrdaya-kandare sphuratu vam Saca-nandanam

 

“Que este Senhor, que é conhecido como o filho de Srimata Sacideva, esteja situado transcendentalmente no local mais reservado de seus corações. Resplandecente com o brilho do ouro derretido, Ele apareceu na era de Kali devido a Sua misericórdia imotivada, para conceder o que nenhuma outra encarnação jamais ofereceu antes: a mais sublime de elevada doçura do serviço devocional, a doçura do amor conjugal.” (Cc., adi: 1.4)

Sri Caitanya veio apenas para unnatojjvala-rasa. O que é unnatojjvala-rasa? É o humor das gopas no serviço a Krsna. E particularmente este é o humor de Radhika. Não pensem que o uso da palavra gopa seja sahajismo. Se fosse este o caso, então Srila Krsnadasa Kaviraja (o autor do Caitanya-caritamrta), Srila Rupa Gosvami (o autor deste verso) e Sri Caitanya Mahaprabhu (a corporificação do Caitanya-caritamrta) seriam todos sahajiyas; porque este verso é a mangalacaraNa (invocação) do verso principal do Caitanya-caritamrta.

Unnatojjvala-rasa é de dois tipos: o humor de Srimata Radhika e das gopas como Lalita, ViSaka, Citra, etc., e também o humor das palya-dasas, as criadinhas de Srimata Radhika. As palya-dasas de Srimata Radhika não desejam servir Krsna quando Ele está sem Radhika. Se Krsna estiver sozinho e as chamar, elas não se aproximarão dEle; elas não desejam desfrutá-lO pessoalmente de maneira alguma. Sri Caitanya Mahaprabhu veio distribuir o humor destas criadas, como Rupa-manjara e Lavanga-manjara, no serviço delas a Srimata Radhika e Krsna.

O humor de Srimata Radhika não pode ser dado; ele é exclusividade dEla. Como Sri Caitanya Mahaprabhu, Krsna veio saborear completamente os três humores dEla:

Sra-Radhayam praNaya-mahima kadrSo vanayaiva-
svadyo yenadbhuta-madhurima kadrSo va madayam
saukhyam casya mad-anubhavatam kadrsam veti lobhat
tad-bhava
hyam samajani Saca-garbha-sindhau harandum

“Desejando compreender a glória do amor de Srimata RadharaNa, as maravilhosas qualidades dEle que apenas Ela desfruta com o amor dEla e a felicidade que Ela sente quando Ela realiza a doçura do amor dEle, o Supremo Senhor Hari, ricamente adornado com as emoções dEla, aparece do ventre de Srimata Sacadeva, assim como a lua aparece do oceano.” (Cc., Sdi: 1.6)

 

O prazer que Srimata Radhika experimenta em servir e em ver Krsna não pode ser dado a ninguém, mas o humor das gopas serviçais pode ser dado. Portanto, Sri Caitanya Mahaprabhu veio apenas para dar isso: o humor do serviço a Srimata Radhika, o humor mais compatível com o serviço a Ela do que com o serviço a Krsna, mas que acaba servindo a ambos. Antes do aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu apareceram Sri Ramanujacarya, Sri Madhvacarya e inúmeros outros Acaryas Vaisnavas. Também já haviam aparecido outras encarnações como o Senhor Rama e o Senhor Nrsimha. Todos Eles deram Suas contribuições muito especiais para este mundo, mas nenhum dEles veio dar este prema, chamado bhakti-rasa, que Sri Caitanya Mahaprabhu veio dar através de Srila Rupa Gosvami.

Sra-caitanya-mano-’bhatam
sthapitam yena bhu-tale
svayam rupam kada mahyam
dadati sva-padantikam

“Quando Srila Rupa Gosvami Prabhupada, que veio estabelecer neste mundo material a missão de satisfazer o desejo do Senhor Caitanya, me concederá abrigo sob os seus pés de lótus?”

 


AS GLÓRIAS DE SRILA RUPA GOSWAMI

 

Existiram inúmeros grandes devotos que foram associados íntimos de Sri Caitanya Mahaprabhu, como os seis Gosvamis, Sri Svarupa Damodara e Sri Raya Ramananda, mas este verso que foi composto por Srila Narottama dasa Thakura, foi escrito para glorificar especialmente Srila Rupa Gosvami. Porque ele é Rupa-manjara, ele pode compreender os desejos mais íntimos do Senhor e conceder às Jivas o seu próprio serviço íntimo a Krsna. Srila Svarupa Damodara e Srila Raya Ramananda eram Lalita e ViSakha, e nem os seus humores e nem os seus tipos específicos de serviço podem ser concedidos. Elas servem Krsna como Srimata Radhika O serve, no sentido que Ele desfruta rasa com elas e elas desfrutam de Krsna diretamente.

Srila Svarupa Damodara e Srila Raya Ramananda foram os sika-gurus de Srila Rupa Gosvami e dos outros Gosvamis. Sri Caitanya Mahaprabhu pediu a eles, bem como a Nityananda Prabhu e a todos os Seus associados, que dessem a sua misericórdia especial a Srila Rupa Gosvami, para que ele conseguisse realizar o Seu desejo mais íntimo e distribuí-lo pelo mundo inteiro. Todos eles concederam sua misericórdia a Srila Rupa Gosvami e desta maneira ele recebeu poder para compor a literatura que expressa os sentimentos íntimos de Sri Caitanya Mahaprabhu. Desta maneira Srila Rupa Gosvami satisfez o Senhor. Ninguém antes dele havia composto livros como ele fez.

Sriman Mahaprabhu deu uma ordem especial a Srila Rupa Gosvami: escrever livros sobre aquilo que antes Ele havia lhe ensinado em Prayada, e que estabelecesse neste mundo raganuga-bhakti, ou serviço devocional espontâneo. Srila Rupa Gosvami então cumpriu a ordem do Senhor escrevendo vários livros, como o Bhakti-rasamrta-sindhu e o Ujjvala-nalamaNi. Ele apresentou tattvas, ou verdades, que ainda não haviam sido explicadas de maneira clara no Srimad Bhagavatam, nos PuraNas, ou em quaisquer outras escrituras. No Vidagdha-madhva, Lalita-madhava e em outros livros, ele escreveu inúmeros versos descrevendo os humores de Srimata Radhika e das gopas, chamados vraja-bhava.

 

MAHA VISNU OU MAHAPRABHU?

 

Todos os Acaryas da nossa linha, começando por Srila Svarupa Damodara e Srila Raya Ramananda, até Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Gosvami e seus discípulos, não vieram para estabelecer vaidha-bhakti. Como eles foram Acaryas especiais, nenhum deles veio para isso. Eles não vieram para pregar as teorias e sentimentos de vaidha-bhakti como foram ensinados por Sri Ramanujacarya, Sri Madhvacarya, etc. Ou seja, se eles fossem pregar estas coisas, então eles teriam vindo representar a Sri sampradaya, a Madhva sampradaya, a Vinusvama sampradaya, a Nimbaditya ou qualquer outra sampradaya.

 

Todos os nossos Acaryas, isto é, todos os Acaryas da Gaudya sampradaya — começando de Madhavendra Purapada e Isvara Purapada até Srila Svarupa Damodara e dele até Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura, Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja e Srila BhaktiVedanta Svama Maharaja — nenhum deles veio para estabelecer vaidha-bhakti. Ou seja, eles vieram pregar sobre a vinda de Sri Caitanya Mahaprabhu para a distribuição deste prema, deste vraja-bhakti, vraja-rasa.

 

Sriman Mahaprabhu também estabeleceu o yuga-dharma através de nama-Sankirtana. Ele fez isso por intermédio do MahaviNu, de Naryana, de Nrsimhadeva e de outros avataras, todos Eles estavam contidos nEle, dentro do próprio corpo dEle. Como todos os outros avataras estavam dentro dEle, não foi preciso que viesse nenhuma outra encarnação para realizar a função de estabelecer o yuga-dharma e de dar misericórdia para Jagai e Madhai. Sri Caitanya Mahaprabhu fez tudo isso sozinho. Ele satisfez o desejo de Advaita ncarya aparecendo bem depressa. Ele pregou e deu Krsna-prema através do cantar do Santo Nome. Ele desfrutou dos sentimentos de Srimata Radhika e satisfez todos os Seus outros propósitos. No entanto, dentre todos os Seus propósitos, dois eram os mais proeminentes, como descreve o Caitanya-caritamrta: dar Krsna-prema e saborear os sentimentos de Srimata Radhika.

 

prema-rasa-niryasa karite asvadana
raga-marga bhakti loke karite pracaraNa
rasika-Sekhara Krsna parama-karuNa
ei dui hetu haite icchara udgama

 

“O Senhor desejou descer por dois motivos: Ele desejava saborear a doce essência das doçuras do amor a Deus e desejava propagar o serviço devocional no mundo sob a plataforma da atração espontânea. Desta maneira Ele é conhecido como supremamente jubilante e como o mais misericordioso de todos.” (Cc. adi: 4.15-16)

 

Krsna é rasika-Sekhara. Vocês sabem o significado de rasika-Sekhara? Ele é quem saboreia, quem desfruta de todas as rasas. Ele é um oceano de prema-rasa. O Senhor Rama tem um pouco de rasa, mas Ele não é um oceano ilimitado de rasa. O Senhor Nrsimhadeva tem uma rasa. Quando Ele apareceu, Ele tinha raudra, ira e todo o mundo ficou com medo. Mas Krsna é rasika-Sekhara, um oceano ilimitado. Não há limite na profuadidade do oceano da rasa dEle.

 

 

Num sentido geral, todas as escrituras glorificam Krsna desta maneira.

 

No entanto, de acordo com a siddhanta Gaudiya vaisnava (a sucessao discipular de Sri Caitanya), Srimati Radhika , é um oceano de rasa ainda maior do que Krsna. Se Ele mergulhasse neste oceano, nem mesmo Ele seria capaz de sondar a sua profuadidade.

 

Na verdade, o Srimad Bhagavatam só foi apresentado com o propósito de glorificar Srimata Radhika e as gopas. Muitos Puranas e inúmeras outras escrituras védicas haviam sido escritos para glorificar Krsna. No Srimad Bhagavatam, a glorificação de Krsna não é o objetivo supremo; ou seja, ele foi escrito para glorificar o prema dos vraja-bhaktas.

Krsna não é o objetivo da vida. O nosso objetivo é Krsna-prema. Kamsa também teve o darsana de Krsna, mas ele não tinha prema e portanto não pôde satisfazer ou servir a Krsna. No Sri Caitanya-caritamrta foi revelado que este Krsna-prema é a meta suprema de todas as Jivas e que o Radha-prema é o prema mais elevado. Krsna, como Sri Caitanya Mahaprabhu, veio apenas para saborear este prema e para dar os sentimentos de Rupa-manjara, Rati-manjara e de todas as palya-dasas de Srimata Radhika.

 

A Jiva não pode possuir o humor de Srimata Radhika. Ela não pode digerir mais do que o humor das palya-dasas — mas este humor é a posição mais elevada. Srila Rupa Gosvami, Srila Raghunatha dasa Gosvami e todos os Gosvamis viviam absortos neste humor interno de serviçais de Srimata RadharaNa.

 

sankhya-purvaka-nama-gana-natibhim kalavasana-krtau
nidrahara-viharakadi-vijitau catyanta-danau ca yau
Radha-Krsna-guNa-smrter madhurimanandena sammohitau
vande rupa-sanatanau raghu-yugau Sra-Jiva-gopalakau

 

“Ofereço minhas respeitosas reverências aos seis Gosvamis: Sri Rupa, Sri Sanatana, Sri Raghunatha Bhatha, Sri Raghunatha dada, Sri Jiva e Sri Gopala Bha˜˜a Gosvamis, que se dedicaram em cantar de maneira regulada os Santos Nomes do Senhor e a se prostrarem de maneira humilde. Foi assim que eles dedicaram as suas vidas valiosas e ao executarem estas atividades devocionais eles conquistaram a tendência de comer demais e o sono e permaneceram sempre meigos e humildes, encantados ao lembrarem das qualidades transcendentais do Senhor.” (Srima Gosvamiy-astaka # 6).

Este é um verso maravilhoso. Srila Rupa Gosvami, Srila Sanatana Gosvami e os outros Gosvamis cantaram e rolaram no chão em Vrindavana. Às vezes no Radha-kuNa ou no Syama-kuNa, às vezes em Vrindavana ou Bandhiravana, outras vezes em Nandagran ou em VarSana. Em todos os locais eles choravam profusamente e gritavam”: Ó Radhike, onde Você está?” Com sentimentos muito profundos, eles cantavam diariamente não menos do que cem mil harinamas. Eles viviam absortos em se lembrar dos nomes e passatempos de Krsna e ofereciam centenas de milhares de daNavat-praNamas. Eles oravam: “He Radhe! He Radhe! He Krsna! KaruNa-sindhu! Dina-bandhu! Jagatpate!” Eles vivam cantando estes tipos de Slokas e chorando.

 

Srila Rupa Gosvami estava na linha de Sri Caitanya Mahaprabhu, transmitindo apenas os sentimentos devocionais que o Senhor o encarregou de pregar. Srila JIva Gosvami, Srila Raghunatha dasa Gosvami, Srila Krsnadasa Kaviraja Thakura, Srila Syamananda Prabhu, Srila Narottama Thakura, Srila Srinivasa ncarya e depois deles Srila ViSvanatha Cakravarta Thakura, Srila Baladeva VidyabhuaNa, Srila Jagannatha dasa BabaJi Maharaja, Srila GaurakiSora dasa BabaJi Maharaja, Srila Bhaktivinoda Thakura — todos eles sao Rupanuga-Vaisnavas. Eles não vieram pregar vaidha-bhakti. No entanto, eles tiveram que fazer isso para poderem cortar as selvas de filosofias equivocadas, e então estabelecerem o yuga-dharma e depois deram estas concepções mais profundas. Sem este trabalho preliminar, ninguém pode compreender os seus sentimentos íntimos e o verdadeiro propósito de sua pregação.

 

O NÉCTAR DA INSTRUÇÃO

 

Srila Swami Maharaja também veio dar ao mundo esta concepção suprema. Ele não veio apenas para dar harinama ou para estabelecer vaidhi-bhakti. Ele nos deu estes princípios para nos preparar para mais progresso na vida espiritual. Ele derrubou as selvas de mayavada, sahajiysmo e sakhi-bhekivada (pessoas que, cheias de desejos materiais, se vestem como sakhas de Radha e Krsna) e todos os demais equívocos espirituais. Onde quer que ele fosse, ele purificava os corações; no entanto a sua mula, ou o seu objetivo principal, era o de dar este prema supremo.

Vocês leram os comentários de Svami Maharaja no Upadesamrtta, O Néctar da Instrução? O primeiro verso é:

vaco vegam nanasam krodha-vegam
jihva-vegam udaropastha-vegam
etan vegan yo vi
aheta dharam
sarvam apamam prthivam sa Si
yat

 

“Uma pessoa séria, que pode tolerar os impulsos da fala, as demandas da mente, as ações da ira e as exigências da língua, barriga e genitais, está qualificada para fazer discípulos no mundo inteiro.”

 

Primeiro temos que praticar isso. Isso está relacionado com vaidha-bhakti e Srila Rupa Gosvami estabeleceu estas práticas.

Temos tantos desejos materiais. Depois da idade dos dezoito ou dezenove anos, devemos resolver se vamos casar ou não e isso se torna um problema muito sério. Pensamos: “Ó nosso Gurudeva antes era um chefe de família e por isso acho que também devo me casar. Depois, com a idade de setenta anos, vou assumir a ordem da vida renunciada.” Não sabemos o que fazer e estamos sempre neste dilema.

Verificamos que para poder realizar bhakti, Srila Sukadeva Gosvami e Sri Narada Muni nem sequer obedeceram a ordem dos seus pais tão elevados. Srila Vyasadeva desejava que o seu filho Sukadeva permanecesse em casa com ele e saiu atrás dele gritando: “Volte, volte, meu filho! Meu filho!” Mas Srila Sukadeva Gosvami saiu correndo pela floresta densa e nunca voltou. O Senhor Brahma disse para Narada:

“Você é meu filho. Os seus irmãos mais velhos Sanaka, Sanatana, Sananda e Sanat-kumara, não me obedeceram e foram praticar austeridades para a satisfação do i˜adeva deles, o Senhor adorável deles. Mas agora que você nasceu de mim, você deve me obedecer. Quando você chegar a maturidade, você deve se casar como eu me casei. Eu tenho duas esposas e você pode ter até mais do que isso que está tudo bem.” Mas Narada não quis obedecer, ele preferiu deixar o lar.

Então o que fazer? Já temos nos casado repetidas vezes — não só nesta vida, mas em centenas de milhões de vidas. Se numa vida você não se casar qual vai ser o problema? Asnos, porcos e cães também se casam. Vamos deixar que o corpo humano seja usado para controlar os sentidos. Rupa Gosvami escreveu:

vaco vegam manasam krodha-vegam
jihva-vegam udaropastha-vegam
etan vegan yo vi
aheta dharam
sarvam apamam prthivam sa Si
yat

 

Uma pessoa que siga este primeiro Sloka é jagat-guru.

 

OS INGREDIENTES PARA O GOSTO

 

Para quem são estas instruções? Elas são para aqueles que desejam Krsna-prema, para aqueles que desejam servir a Krsna. Mas primeiro você tem que fazer uma plataforma, um terreno para crescer. Srila Swami Maharaja também nos disse para fazer isso.

 No verso seguinte, Srila Rupa Gosvami disse:

atyaharam prayasaS ca
prajalpo niyamagraham
jana-sangaS ca laulyam ca
abhir bhaktir vinaSyati

“O nosso serviço devocional fica prejudicado quando nos dedicamos muito as seguintes seis atividades: (1) comer mais do que o necessário ou coletar mais recursos do que o necessário; (2) esforçar-se demais por coisas mundanas que são difíceis de serem obtidas; (3) falar desnecessariamente sobre assuntos materiais; (4) praticar as regras e regulações das escrituras só por praticá-las, e não para o avanço espiritual, ou rejeitá-las e trabalhar independente ou caprichosamente; (5) associar-se com pessoas de mentalidade mundana que não estão interessadas em consciência de Krsna; e (6) estar ávido por realizações mundanas.” (Sri UpadeSamrta # 2)

 

Se vocês não abandonarem estas seis coisas que são prejudiciais ao serviço devocional, sua bhakti irá desaparecer e a sua vida espiritual será destruída. Não se dediquem a estas atividades.

 

No terceiro Sloka, Srila Rupa Gosvami escreveu:

utsahan niScayad dhairyat
tat-tat-karma-pravartanat
sanga-tyagat sato vrttem
abhir bhaktim prasidhyati

“Existem seis princípios favoráveis à execução do serviço devocional puro: (1) estar entusiasmado, (2) esforçar-se com confiança, (3) ser paciente, (4) agir de acordo com os princípios regulativos (tais como Sravanam, Kirtanam viNom smaranam — ouvir, cantar e lembra-se de Krsna), (5) abandonar a associação de não-devotos, e (6) seguir os passos dos Acaryas anteriores. Estes seis princípios asseguram indubitavelmente o sucesso completo do serviço devocional puro.”

 

Um devoto aspirante pode estar cantando o Santo Nome nos últimos dez ou quinze anos, mas ainda assim ele pode não estar com a sua mente fixa. Sua mente vive sempre perturbada e seus desejos de desfrutar os prazeres do mundo ainda não diminuiram. Só aumentaram. Isso significa que ele não tem fé. Portanto, ele fica imaginando se a sua tentativa em controlar os sentidos não será em vão. Ele fica pensando se agora deve parar de tentar. Não pense desta maneira: utsahan niScayad dhairyat. Todas as Jivas estão qualificadas para praticar bhajana. Ajamila, Jagai e Madhai, Bilvamangala — e até mesmo pessoas mais depravadas do que eles — receberam o serviço devocional a Krsna. NiScaya significa confiança. Temos que ter confiança que por praticar os princípios de bhakti, nós seguramente alcançaremos Krsna-prema.

Dhairya significa paciência. Consciência de Krsna não é como um lau ou rasagulla que pode ser desfrutado com facilidade, apenas por colocá-los na boca. Nós às vezes trabalhamos duro dia e noite para ganhar apenas alguns punhados de dólares. E agora esperamos que a consciência de Krsna, que é a conquista mais elevada, possa entrar em nossas bocas como rasagulla. É claro que teremos que nos esforçar para alcançá-la. Temos que seguir todas as práticas que os nossos Acaryas adotaram, tanto na vida de chefes de família quanto na vida de renunciados. No entanto, infelizmente não os estamos seguindo. Temos que tentar adotar todos estes princípios.

A seguir, no quarto verso, Srila Rupa Gosvami discute os seis tipos de sanga:

dadati pratigrhNati
guhyan akhyati prcchati
bhunkte bhojayate caiva
a-vidham prati-lakaNam

“Oferecendo presentes em caridade, aceitando presentes em caridade, revelando suas mentes confidencialmente, aceitando prasada e oferecendo prasada, são os seis sintomas de amor compartilhados pelos devotos.” (Sri UpadeSamrta # 4)

Depois disso Srila Rupa Gosvami explica como devemos honrar os Vaisnavas apropriadamente:

krNeti yasya giri tam manasadriyeta
dak
asti cet praNatibhiS ca bhajantam aSam
SuSru
aya bhajana-vijnam ananyam anya-
nindadi-Sunya-hrdam apsita-sanga-labdhya

“Devemos honrar mentalmente o devoto que canta o Santo Nome do Senhor Krsna, devemos oferecer humildes reverências aos devotos que se submeteram a iniciação espiritual (dika) e que está se dedicando a adoração da Deidade e devemos nos associar e servir fervorosamente o devoto puro que é avançado e que não se desvia do serviço devocional e cujo coração está competamente desprovido da tendência de criticar os outros.” (Sri UpadeSamrta # 5)

 

Se não tivermos gosto por harinama — e se desejamos alcançar este gosto — deveremos praticar estes princípios regularmente, honrando os devotos apropriadamente.

 

 

A ESSÊNCIA DE TODOS OS CONSELHOS

 

Srila Rupa Gosvami declara:

tan-nama-rupa-caritadi-suKirtananu-
smrtyom krameNa rasana-manasa niyojya
ti
˜han vraje tad-anuragi jananugama
kalam nayed akhilam ity upadeSa-saram

 

“A essência de todos os conselhos é que devemos utilizar todo o nosso tempo — vinte e quatro horas por dia — em cantar bem e em lembrar o divino nome, forma transcendental, qualidades e passatempos eternos do Senhor, e assim ir gradativamente empregando a nossa mente e a nossa língua. Desta maneira devemos residir em Vraja e servir a Krsna sob a direção dos devotos. Devemos seguir os passos dos devotos queridos do Senhor, que estão profundamente apegados ao Seu serviço devocional.” (Sri UpadeSamrta # 8)

 

Vocês devem ler a esplêadida explicação que Swami ji deu para este verso. Ele escreve que Sri Caitanya Mahaprabhu desceu para este mundo apenas para distribuir Krsna-prema. Se vocês desejam este prema, devem seguir os princípios deste Sloka. Aqui, Srila Rupa Gosvami faz um resumo de todos os ensinamentos de Caitanya Mahaprabhu:

 

tan-nama-rupa-caritadi-suKirtananu-

smrtyom krameNa rasana-manasa niyojya

 

“Devemos cantar bem e lembrarmos do divino nome, forma transcendental, qualidades e passatempos eternos do Senhor, e assim ir gradativamente empregando nossa mente e nossa língua.”

 

SE VOCÊS DESEJAM KRSNA PREMA

 

Se vocês desejam ter Krsna-prema, então (tan-nama-rupa-caritadi) vocês devem cantar os nomes de Krsna. E quais são os melhores nomes para se cantar? Os melhores nomes são aqueles relacionados com ti˜han vraje tadanuragi jananugama, com Krsna em Vrindavana, relacionados com os devotos mais queridos de Krsna que vivem em Vraja.

he Krsna karuna-sindho
dana-bandho jagat-pate
gopeSa gopika-kanta
Radha-kanta namo
tu te

 

“Ó meu querido Krsna, Você é um oceano de misericórdia. Você é o amigo do aflito e a causa da criação. Voce é o amo dos gopas. Você é o amante das gopas. Você é o querido de RadharaNa. Ofereço a Você as minhas respeitosas reverências.”

 

O autor está orando: “Ó Krsna, Você é muito bondoso, misericordioso, encantador e maravilhoso. Peço a Você que me conceda a Sua misericórdia.” Ele considera neste verso que se alguém é muito dana-hana, humilde, então a misericórdia do Senhor pode ser obtida — não há outra maneira. A chuva cai no alto da montanha, mas ela não permanece ali. A água acaba sendo coletada num reservatório ou num vale. O reservatório representa o devoto humilde e a chuva representa a misericórdia de Krsna. Se não formos humildes, então apesar da misericórdia estar sempre em todo lugar, não podemos obtê-la. Portanto o autor diz: dana-bandho! Não sou nem qualificado nem humilde, mas Você tem tanta misericórdia por todo mundo. Dana quer dizer caído e certamente eu sou uma destas almas caídas. Tenho tanto falso ego, e por isso, não me considero uma pessoa desprezível. Jagat-pate. Estou neste mundo, mas Você é jagat-pate, o dono do Universo inteiro. Você mantém e suporta todo mundo neste Universo, sou uma destas pessoas.

Os nomes citados são nomes de Vasudeva Krsna e agora o autor chama pelo Krsna de Vrindavana. Ele diz: “GopeSa, Você é o Senhor dos gopas e das gopas de Vrindavana, Vraja, mas eu não sou um deles.” Ele deseja estar entre eles, e então ele ora: “Você também é tão querido pelas gopas.” Este nome também é bastante proeminente, mas o nome mais proeminente é o nome que aparece no final da oração, Radha-kanta. Radha-kanta significa que Krsna é controlado por Radha. Portanto, devemos cantar estes nomes e lembrarmos dos passatempos de Krsna que estão relacionados com eles.”

Se vocês cantarem o nome: Damodara — do que você se lembrarão? De YaSodamaya amarrando Krsna no ukhala, pilão, e Ele esta chorando porque ela quer castigá-lO e controlá-lO. E também existe outro Damodara — Radha-Damodara, ou Krsna que é controlado por Srimata Radhika. Podemos nos lembrar destes passatempos: como Srimata YaSoda controla Krsna, ou como Srimata Radhika O controla.

É melhor viver apenas em Vrindavana, onde estes passatempos se realizam. E se vocês não podem viver em Vrindavana, então estejam lá mentalmente. Mas só isso não é o suficiente, porque Srila Rupa Gosvami ainda dá uma outra regra. Devemos estar sob a direção de um Vaisnava rasika tattva-jna; isto é, sob a direção de uma alma completamente realizada, que tem completo conhecimento do Sastra e que está experimentando o seu relacionamento amoroso (rasa) com Krsna — como Srila Rupa Gosvami e os seus seguidores Vaisnavas rupanugas. Caso contrário não é possível avançarmos neste caminho.

 Esta é a upadesa mais essencial de todas as instruções de Srila Rupa Gosvami e de Sri Caitanya Mahaprabhu.

 

A GLÓRIA DE SRILA PRABHUPADA

 

Srila Swami Maharaja veio para dar estes princípios elevados através do Santo Nome. Para as pessoas menos qualificadas ele também deu vaidha-bhakti através do Nome, mas o seu humor mais íntimo era dar este Krsna-prema.

Eu expliquei isso em Vrindavana, Srila Swami Maharaja não era da linha de Advaita ncarya, MahaviNu, que vem em toda Kali-yuga para estabelecer o yuga-dharma do nama geral (que só confere a quem o canta vaikuN˜ha-prema). Como Sri Caitanya Mahaprabhu, ele estabeleceu nama com vraja-prema. Esta era a especialidade de Sri Caitanya Mahaprabhu e esta também era a especialidade de SwamaJi. Tenho glorificado Swami ji. Temos declarado que ele veio na linha de Sri Caitanya Mahaprabhu e de Srila Rupa Gosvami para dar prema, e assim como fez Sri Caitanya Mahaprabhu, ele também estabeleceu yuga-dharma. Swami ji era um Vaisnava rupanuga, um seguidor de Rupa Gosvama, de Rupa-manjara.

Apesar de já ter explicado isso outras vezes, alguns devotos não puderam compreender. Eles me disseram: “Oh, você não está glorificando o nosso Gurudeva.” Mas ele também é o meu Gurudeva, não é só de vocês. Vim compartilhar com vocês o amor que tenho por ele, apenas para que vocês recebam mais misericórdia. Vocês não o glorificam mais do que eu. Ele está me concedendo uma oportunidade especial para servi-lo e estou lhe oferecendo, de todo coração, pupanjala aos seus pés de lótus aqui neste lugar.

Vocês devem tentar obedecer os princípios de Swami ji e devem tentar ter os mesmos sentimentos devocionais e o mesmo objetivo que ele tinha. O objetivo é vraja-prema, gopa-prema. Esta é a nossa meta. Vocês devem iniciar a partir dos estágios bem preliminares, e, anyabhilaita-Sunyam, acabarão abandonando todos os desejos materiais para satisfazer a Krsna. Ofereço meus daNavata-pranamas a Sua Divina Graça Bhaktivedanta Swami Maharaja.

 

A Missão de Swamiji

Alachua, Flórida — junho de 1999

Em primeiro lugar desejo oferecer meus dandavats pranamam aos pés de lótus do meu mestre espiritual Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja e também ao meu Sika-guru, o nitya-lala pravista om viNupada Sri Srimad BhaktiVedanta Swami Maharaja.

Svasti, su asti.

Nos Vedas está declarado que uma pessoa pode ser feliz a vida toda, especialmente como ela pode ser feliz transcendentemente. Com dinheiro, opulência, riqueza, ninguém pode ser feliz. Somos servos eternos de Krsna. Portanto, se alguém está servindo Krsna e alcançou o serviço eterno ao casal Radha e Krsna, pode ser feliz. E por que o gurudeva de vocês, Srila BhaktiVedanta Swami Maharaja, que chamam Prabhupada, veio para os países Ocidentais? Ele veio para fazê-los felizes. Em muito pouco tempo ele pregou pelo mundo inteiro e muitos devotos o serviram muito bem.

Na nossa linha, na linha rupanuga, se alguém não está servindo diretamente a Krsna, mas tem um desejo intenso de servir a Srimata Radhika, assim que Krsna fica sabendo disso, logo Ele é controlado e concede tudo o que o devoto deseja. Se alguém deseja alcançar Krsna-bhakti, não será tão feliz, mas se orar para Krsna:

Syamasundara sikhan-Sekhara smera-hasa murali-manohara
radhika-rasika mam krpa-nidhe sva-priya-caraNa-kinkarim kuru
(Sri Radha-Prarthana # 2 de Sri Vithalacarya)

“Ó Krsna, Você é o amante de todas as gopas e especialmente de Srimata Radhika. Radhika é Sua amada. Por isso, se Você deseja me conceder uma bênção, desejo que me faça uma criada de Srimata Radhika e mais nada.”

Quem mais disse isso? Srila Raghunatha dasa Gosvami, que é o rupanuga acarya:

tavaivasmi tavaivasmi
na jivami tvaya vina
iti vijsaya radhe tvam
naya mam caraNantikam

(Sri Stavavali, Sri Vilapa Kusumasjali # 96)

“Sou Sua! Sou Sua! Não posso viver sem Você! Ó Rainha, por favor, compreenda isso e me traga aos Seus pés.”

Portanto, não existe nada mais elevado do que essa bênção. Srila Rupa Gosvami, e outros Acaryas também disseram isso:

ha deva! kaku-bhara gadgadayadya vaca
yace nipatya bhuvi dan
vad udbha˜a˜artim
asya prasadam abudhasya janasya krva
 gandharvike! nija-gaNe gaNanam vidheha
(Sri Gandharva-samprarthana
˜akam #2)

“Ó Srimata Radhike, por favor, admita-me na Sua escola. E registre meu nome na lista de Suas criadas. O meu único desejo é servi-lA.”

E assim, nos Vedas está declarado: saccidananda ghana Krsna — Ele deve ser misericordioso e conceder a Sua misericórdia para que sejamos felizes para sempre.

Em todos os Sastras está dito isso. Nessa prece, nesse mantra védico, Govinda deve ser misericordioso, Krsna deve ser misericordioso, Nrsimhadeva deve ser misericordioso, Ramacandra deve ser misericordioso. Ele diz que todos podem ter o serviço transcendental ao casal Radha e Krsna. Portanto, estamos orando ao casal Radha e Krsna, para que Eles nos concedam a Sua misericórdia

Vocês sabem que assim que entrei na missão de meu gurudeva, em 1946, eu conheci Swamiji. Eu o conheci em Calcutá, quando ele foi visitar gurudeva, depois do parikrama de Navadvapa. Talvez vocês também saibam que meu gurudeva começou o Gaudya Vedanta Samiti, Abhaya Caranaravinda, A.C. BhaktiVedanta Pabhu, também foi um dos membros fundadores. Meu gurudeva tomou iniciação em 1916, e creio que A.C. BhaktiVedanta Pabhu foi iniciado em 1922. Mas desde o início eles foram sempre muito bons amigos.

Quando o conheci eu era o servo pessoal de gurudeva que me disse naquele dia: “Oh, ele é meu amigo do peito, este é BhaktiVedanta Pabhu. Ele é uma pessoa muito erudita e escreve artigos muito bons em inglês e em bengali.” E passei a servi-lo e desde aquele dia ele foi misericordioso comigo. Ele escreveu sobre esse relacionamento em suas cartas. Creio que foram mais de 300 cartas em inglês, bengali e hiadi. Ele me escreveu de vários lugares da América. Eu o conheci desde o início de sua missão.

Quando Guru Maharaja começou a publicar uma revista mensal em bengali e outra em hiadi, convidou Swamiji, A.C. BhaktiVedanta Pabhu. Ele o manteve como o editor-chefe. Swamiji era um escritor muito bom. Às vezes costumava dar os artigos para mim e eu os traduzia do bengali para o hiadi. E mais tarde ele começou a publicar o “Volta ao Supremo” em hiadi. E então pediu-me que escrevesse alguns artigos para sua revista.

Talvez vocês também saibam que quando ele deixou a sua casa, vivia  como um meadigo em Mathura. Chegou a Mathura sem nenhum tostão, sem nada. Encontrou-se comigo e eu o levei até a nossa Ma˜ha. Estava vivendo num outro lugar, e eu solicitei: “Oh, você deve ir morar conosco.” E ele foi viver na KesavaJi Gaudya Ma˜ha. E lá ficamos juntos por muitos meses.

Primeiro pedi: “Você é uma pessoa muito erudita, e Prabhupada desejava que pregasse em inglês, nos países estrangeiros. E agora você está vivendo como um meadigo, sem lugar para ficar. Você deve tomar sannyasa.” Primeiro disse isso a ele e depois também pedi ao meu gurudeva: “O senhor deve escrever uma carta, para que ele tome sannyasa. Ele deve aceitá-la.” Então meu gurudeva também pediu, e ele concordou.

 

Naquela ocasião ele me contou uma história: “Quando fui iniciado comecei a ler o Srimad Bhagavatam. E no Canto 10.88.8, há um Sloka — yasyaham anugrhnami harisye tad-dhanam sanaih — onde o próprio Sri Krsna está dizendo: ‘Se alguém se refugia em Mim, então Eu o transformo num mendigo de rua.’ Por isso tinha muito medo: ‘Oh, se eu virar um bom devoto, então terei que abandonar o meu lar e tudo o que tenho, vou acabar virando um meadigo de rua. O que devo fazer?’

Naquela época ele era o gerente da Bengal Chemicals. Não era bem o gerente, era como o proprietário. Ele me dizia: ‘Tinha muito medo, mas nunca deixei de cantar harinama, de ler os livros e praticar o serviço devocional.’ Logo ele perdeu o posto de gerente e foi para Allahabad onde começou o seu negócio, uma fábrica de remédios. Mas depois de um ou dois anos, o negócio faliu. Então abriu uma farmácia que ficou muito famosa, mas depois de algum tempo, também faliu.

Então ele começou a ser representante de remédios, mas também acabou falindo logo. E ficou sem um tostão. Foi naquela época que nos encontramos, e pedi a ele que tomasse sannyasa. Ele então me disse: “Já perdi tudo.” E eu disse: “Sua esposa o dispensou. Seus filhos também. Por que você está aqui? Meu gurudeva está chegando e você deve tomar sannyasa.”

Ele concordou e quando meu gurudeva veio pediu a Swamiji que aceitasse sannyasa e ele aceitou. Eu agi como o sacerdote, dei-lhe a daNa, as vestes açafrão, ensinei como usá-las, realizei a cerimônia de fogo, Kirtana e tudo mais. E depois que ele tomou sannyasa fui para Deli com ele, para Vrindavana, Jhansi e muitos outros lugares, sempre servindo-o. Às vezes em Vrindavana fazíamos capatis juntos, ele os batia e eu cozinhava, punhamos gha, oferecíamos e sentávamos juntos para comer os capatis. Naquela época ele não tinha nem uma cama, nada para sentar, coisa alguma. Eu lhe emprestava o meu caddar, onde nos sentávamos e discutíamos muitas coisas. Nos seus últimos dias ele me chamou.

Bem, e antes disso, assim que ele chegou da América, fui a única pessoa que estava no aeroporto para recebê-lo. Envie-lhe os karatalas, livros, deidades, mrdanga, e o doce que gostava muito, o pera. Sempre o servia sem nenhum desejo, e por isso ele tinha muita fé em mim. Tínhamos um bom relacionamento. Primeiro ele era irmão espiritual do meu gurudeva, e era o meu Sika-guru. Desde o início eu o aceitei como o meu verdadeiro Sika-guru. E vocês sabem que não há diferença entre o Sika-guru e o daka-guru, por isso o respeitava como meu gurudeva. E ele, sem hesitar, me dava ordens para qualquer serviço que precisasse. Ele escreveu em suas cartas, e vocês podem vê-las: “Nosso relacionamento é transcendental. Assim como tenho esse relacionamento com Srila Prabhupada, você tem o mesmo relacionamento comigo.” E foi por isso que em seus últimos dias ele me chamou, e fui até lá. Ele havia parado de falar, não falava com ninguém. Mas quando me viu, logo tomou as minhas mãos, as colocou nas suas e desejou que eu me sentasse ao seu lado, na cama. Prestei as minhas reverências. Desejava sentar-me ali perto. Mas logo ele mandou Tamala e outros: “Vão buscar uma cadeira.” E então, começou a chorar e a me dizer: “Agora estou muito feliz que você tenha vindo. Tenho alguns pedidos para fazer-lhe.” Ele me disse muitas coisas. O que desejava dizer especialmente para mim, dizia em bengali. E quando desejava que os outros também entendessem, falava em inglês.

Ele disse: “Sei que não estarei nesse mundo. Por isso peço que você me desculpe. Disse algumas coisas em minha pregação que não estavam corretas. Só disse para inspirar os meus devotos, meus seguidores neófitos, foi por isso que disse essas coisas. Mas fiz mal, seu disso. Portanto você deve me desculpar. E diga a todos meus irmãos espirituais que me desculpem.”

Eu respondi: “Não, nunca você cometeu nenhum equívoco. Sei que não cometeu nenhuma ofensa. Também fazemos o que você fez para pregar. Apesar de ninguém gostar de falar dessa maneira, temos que falar assim para poder inspirar os novatos, os discípulos neófitos. Por isso não foi nenhuma ofensa. Mas vou entregar a sua mensagem aos seus irmãos espirituais.”

Então ele me pediu: “Quero que você dê meu samadhi aqui em Vrindavana, com as suas próprias mãos.”

Ao dizer isso ele começou a chorar e estava se despedindo de nós, indo para Goloka Vrindavana para servir seu Pabhu, o casal Radha e Krsna. Ele me disse: “Você deve aceitar esse meu desejo.”

Eu respondi: “Sim, irei servi-lo, irei cumprir a sua ordem.” E foi o que fiz.

E ele também me pediu: “Você deve saber que eu trouxe muitos devotos para cá, do mundo inteiro, de todas as partes. Mas não tive tempo para treiná-los. No futuro eles poderão brigar, não reverenciar um ao outro, por favor, ajude-os.” E ele me disse isso inúmeras vezes. Ele chamou todos os devotos que estavam no GBC, Tamal Krsna, Giriraja, Jayapataka, Brahmananda e todos os que estavam lá. E quando eles vieram, ele disse: “Oh, venham ouvir. Naryana Maharaja vai lhes dizer algo.”

 

Então eu disse: “Não pensem que ele vai morrer. Ele nunca morrerá. Ele não pode morrer. Por isso vocês devem tentar continuar a sua missão, pregando no mundo inteiro. Vocês devem reverenciar uns aos outros, não negligenciem nem mesmo um devoto de terceira classe, nem mesmo um kanistha-adhikara. Tentem respeitá-los, então poderão pregar sua missão. Vocês devem tentar pregar a missão de Swamiji pelo mundo, publicando seus livros, distribuindo seus livros e levando adiante essa missão. Esse é o serviço de vocês. Não briguem entre si por dinheiro, prestígio e falso ego, pelo ego mundano.”

 

Mas eles resolveram assumir o lugar de Swamiji e jamais respeitaram alguém. Eles quiseram controlar todo mundo usando a inteligência. Esse é um processo errado. Sempre desejei ajudá-los muito, mas eles tinham medo: “Ele vai tirar a nossa posição, dinheiro e devotos.” Mas eu nunca quis saber disso. Desejava ajudá-los sem qualquer recompensa pessoal, para cumprir as ordens que havia recebido de Swamiji. Precisava ajudá-los, sem qualquer interesse pessoal, deveria ajudá-los!”

 

E foi o que eu fiz. Fui prestar testemunho no tribunal de Bombaim. Fui lá muitas vezes, fiquei lá o dia inteiro e sem esperar nenhuma recompensa por isso. Mas não sei por que ele me abandonaram, não querem que nenhum devoto se encontre comigo, que venha me ouvir. E também não posso visitar os templos da ISKCON, nem mesmo o samadhi que fiz com minhas próprias mãos. Nunca considerei nenhuma ofensa desses devotos, porque Swamiji me disse que eles não eram treinados. E foi por isso que nunca considerei nenhuma ofensa deles. E ainda assim desejo ajudá-los. Para que saibam o que é a missão de Swamiji, para que saibam que somos uma só família. Aqueles que estão cantando e lembrando de Krsna, pensando que devemos adorar Caitanya Mahaprabhu, que estão na linha de Caitanya Mahaprabhu, são a família de Sri Caitanya Mahaprabhu. E sei que Swamiji não veio estabelecer uma novidade. Srila BhaktiVedanta Swami Maharaja não veio trazer uma novidade chamada ISKCON. A ISKCON não é uma coisa nova. Ele deu uma definição, que vocês mesmos podem ver. Qual a definição que ele deu?

Krsna-bhakti-rasa-bhavita matim
kriyatam yadi kuto ’pi labhyate
tatra laulyam api mulyam ekalam
janma-koti-sukrtair na labhyate
(Cc Madhya 8.70)

“O serviço devocional puro em consciência de Krsna não pode ser alcançado sequer pela prática de atividades piedosas em milhões de vidas. Ele só pode ser alcançado pagando-se um preço — a avidez intensa em alcançá-lo. E se ele estiver em oferta em algum lugar, devemos adquiri-lo sem vacilar um segundo.”

 

Essa é a essência da missão dele: Krsna-bhakti-rasa-bhavita matim, isso é consciência de Krsna. Tudo o que ele tinha, sua inteligência, estava saturado com amor e afeição por Radha e Krsna, no humor de Srimata Radhika.

Desde o início da criação Krsna deu o mantra, o Gopala-mantra e o Kama-gayatra para Brahma. Brahma é então o primeiro na nossa linha, o primeiro membro da ISKCON. Narada Muni é o segundo, o terceiro é Vyasa, Krsna-dvaipayana Vyasadeva e o quarto é Sukadeva Gosvami. E depois vêm Svarupa Damodara, Raya Ramananda, Rupa Gosvami e todos os Gosvamis de Vrindavana, Visvanatha Cakravarta Thakura até Bhaktivinoda Thakura, Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura, meu gurudeva e todos os seus irmãos espirituais, depois BhaktiVedanta Swami Maharaja e depois todos os que estão na ISKCON. Portanto, Swamiji não veio estabelecer nenhuma novidade, é o mesmo produto numa nova embalagem, mais nada. Por isso a ISKCON é transcendental. Quem estiver cantando o nome de Krsna:

krNeti yasya giri tam manasadriyeta
dak
asti cet praNatibhiS ca bhajantam iSam
SuSru
aya bhajana-vijnam ananyam anya-
nindadi-Sunya-hrdam apsita-sanga-labdhya
(UpadeSamrta 5)

“Quem assume o nome de Krsna apenas um única vez exclamando: “Ó Krsna!” é um devoto neófito (kanistha-adhikari). Devemos considerá-lo como um membro da família e respeitá-lo silenciosamente. Aquele que, compreende completamente o significado de daka, aceitou iniciação de um guru qualificado e que realiza bhajana para Bhagavan de acordo com as convenções Vaisnavas, é um devoto intermediário (madhyama-adhikara). Devemos respeitar um devoto que está dotado da compreensão correta da realidade e da ilusão, oferecendo-lhe pranama e tudo mais. Quem é versado na ciência de bhajana como descrita no Srimad Bhagavatam e em outras escrituras Vaisnavas, e que realiza bhajana exclusivamente para Sri Krsna, é um devoto maha-bhagavata. Devido à sua absorção indesviável em Krsna, o coração puro de um devoto assim está livre de defeitos, tais como a tendência de criticar os outros. Ele é especialista em bhajana, o que significa que mentalmente presta serviço aos passatempos de Sri Radha-Krsna que ocorrem nas oito partes do dia (a˜a-kalaya-lala). Sabendo que ele é um devoto elevado, cujo coração está estabelecido num determinado sentimento de serviço a Sri Radha-Krsna pelo qual também aspiramos, e que nos é afetuoso, devemos honrá-lo oferecendo-lhe danavat-praNama (pranipata), fazendo perguntas relevantes (paripraSana) e prestando serviço (seva) com grande amor.”

 

Mesmo que alguém não seja iniciado, se estiver cantando e lembrando o nome de Krsna, deve ser honrado. Se vocês não o reverenciarem, então estarão ofendendo o nome, o devoto e o guru, três ofensas de uma só vez. E se ele for realmente iniciado, no sentido verdadeiro — não que tenha recebido daka e depois tenha caído. Não assim. Daka significa divya jnanam, o conhecimento transcendental que deve estar presente, realizado; isso então é daka. E secundariamente, todos os pecados, todas as ofensas terão sido eliminadas. Quem realizou o que é o conhecimento transcendental e o amor e afeição por Krsna e Srimata Radhika na linha de Mahaprabhu, ou na linha de Rupa Gosvami, então recebeu daka. Caso contrário não é daka, mas só algo externo, cerimônia de fogo para dar uma inspiração de que ‘fui iniciado.’ Uma pessoa iniciada, realmente iniciada, não pode cair, nunca, jamais poderá cair. Por isso parece que aqueles que realmente não receberam a iniciação de Swamiji, que não seguiram suas regras e regulações, que não realizaram seus ensinamentos, caíram, estes é que estão caindo. Estamos vendo eles caírem. Portanto, devemos tentar compreender todos esses ensinamentos. Swamiji escreveu muito e vocês podem ler o que ele escreveu no seu significado do Upadeamrta, sobre esse krneti yasya giri. E também o significado de:

tan-nama-rupa-caritadi-sukritananu-
smrtyom krameNa rasana-manasa niyojya
ti
˜han vraje tad-anuraGosvami-jananugama
kalam nayed akhilam ity upadeSa-saram
(UpadeSamrta 8)

“Enquanto vivermos em Vraja, seguindo um dos residentes eternos de Vraja que possui amor espontâneo inerente a Sri Krsna, devemos utilizar todo o tempo disponível em empregar seqüencialmente a língua e a mente no cantar meticuloso e no lembrar dos nomes, forma, qualidades e passatempos de Krsna. Essa é a essência de todas as instruções.”

 

Ele está dizendo que esta é a essência de todos os ensinamentos. Portanto, Swamiji escreveu tudo. Ele não está dizendo: “Oh, só os meus devotos são devotos, só eles devem ser honrados como devotos.” Ele nunca disse isso. Devemos saber essas coisas. Estamos na grande família de Caitanya Mahaprabhu, na família de Krsna, de Radhika. Especialmente na família de Radhika. Quem  quer que esteja cantando e lembrando, mesmo que não tenha sido iniciado, deve ser honrado. E se for iniciado, o que devemos fazer? Prestar-lhe reverências com o coração. E aqueles que estão cantando e lembrando a˜a-kaliya-lala, que não criticam nenhum devoto, que não têm inveja de ninguém, então devemos lhes dar nossa vida e alma aos seus pés de lótus. Esses são os ensinamentos. Os ensinamentos de Swamiji são os mesmos de Srila Rupa Gosvami. Seus ensinamentos são os mesmos e sua missão, sua mensagem é a mesma, a de Caitanya Mahaprabhu. Não existe nenhuma diferença.

 

Vim apenas para cumprir suas ordens, como um servo. O objetivo da minha vida é cumprir essa ordem. Para não dizer de um bom devoto, até mesmo um cão do meu gurudeva ou de Swamiji serão acolhidos e serão objeto da minha adoração. Vou prestar-lhes as minhas reverências. E essa deve ser a perspectiva de todos os devotos. Só estou tentando lhes dar algo que sei e aquilo que ele me ordenou fazer. Não vim para cá coletar dinheiro, esse não é o meu objetivo. Nem para coletar inúmeros discípulos, seguidores, nada disso. Estou feliz de poder contar com a ajuda de inúmeros discípulos de Swamji, que considero colegas, irmãos espirituais, que têm me acolhido em minhas viagens e prestado todo tipo de serviço. Não tenho como recompensá-los. Obrigado a todos vocês.

 

Gaura-premanande!

 

 

Na manhã do dia 17 de junho de 1999, Srila Maharaja comentou sobre o envenenamento de Srila BhaktiVedanta Swami Prabhupada Maharaja. Ele disse que os smarta-brahmaNas pensam que Krsna morreu, que Ele recebeu uma flechada no pé, que Seu corpo foi cremado, e que existe, no local, um templo para marcar esse evento. No entanto, os Vaisnavas nunca pensam que Krsna foi morto. Eles sabem que o corpo de Krsna nunca pode ser morto por algum motivo externo, e que essa foi só uma desculpa para que Ele pudesse regressar para a aprakata Vrindavana. Analogamente, ninguém deve pensar que o mestre espiritual é uma pessoa comum e que seu corpo foi morto. Mesmo que externamente pareça que ele foi assassinado, ele desejou abandonar esse mundo assim, e usou essa causa externa aparente. Mas devemos ficar sabendo que Swami Prabhupada nunca poderia ser morto por uma causa aparente qualquer.


A Verdadeira Dak
a, Sannyasa e Samadhi

Alachua, Flórida — junho de 1999

Em primeiro lugar desejo oferecer meus danavats praNamam aos pés de lótus do meu mestre espiritual Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja e também ao meu Sika-guru,o nitya-lala pravista om viNupada Sri Srimad BhaktiVedanta Swami Maharaja. Sei que ele me arrastou aqui para os países Ocidentais. E desejava me trazer junto quando começou a sua missão em Nova Iorque e me disse repetidas vezes quando estivemos juntos na Índia: “Você deve vir comigo.” Mas eu pedi a ele humildemente: “Tenho muitas responsabilidades aqui, com as duas revistas e também com a KesavaJi Gaudya Ma˜ha e agora gurudeva está em Navadvapa. Eu acabarei indo mais tarde.” E nos seus últimos dias ele me pediu para ajudá-lo.

Ele era um parama-bhagavata-maha-purua. Ninguém pode pregar tão maravilhosamente, tão rápido, se não tiver o poder dado por Krsna. Há um verso a este respeito. Portanto, podemos notar e compreender tudo isso a partir das evidências desde o seu nascimento, sua iniciação de daka e de sannyasa e tudo mais, que ele é um parama-bhagavata-maha-purua. Podemos notar que ele nasceu no dia de Nanda-nandotsva. No dia do aniversário de Krsna, Janmatama, todos estavam jejuando e entretendo Krsna. Mas no dia seguinte, Nandotsava, ele nasceu, numa família muito boa e rica. Não muito rica, pois isso seria um obstáculo, mas bem de vida. Como está declarado no Gita (6.41): sucinam srimatam gehe — “Na casa de pessoas piedosas e prósperas.” Na Índia, vaiyas e brahmanas são famílias de alta classe, aristocráticas. E ele apareceu numa família de alta classe, de gente culta e aristocrática e também muito religiosa. O seu pai era um Vaisnava, sua mãe uma Vaisnava. Eles lhe deram o nome ‘Abahaya Carana.’ Quem é abahaya-carana? O próprio Krsna, abhaya-caranaravinda re.

bhajahu re mana sri-nanda-nandana
abhaya-caranaravinda re

“Ó mente, apenas adore os pés de lótus do filho de Nanda, que nos torna destemidos.”

Por isso, Krsna, Nanda-nandana é abhaya-carana. Para uma pessoa qualquer, é muito difícil, muito raro, nascer num dia assim, numa família de alta classe, numa família Vaisnava. Podemos notar que, exceto em alguns casos muito raros, todos os Vaisnava aparecem em ocasiões assim, em famílias de alta classe. No dia em que ele nasceu estavam celebrando um bom mahotasava, e o seu pai deu-lhe o nome de Abhaya Carana.

Mas tarde, quando se tornou um garotinho, seu pai lhe deu muitos brinquedos, mas não um revólver. Seu pai lhe deu Deidades para brincar. Se o seu pai lhe desse outra coisa, ele recusava, não ficava contente. Mas, quando ganhou Gaura-Nityananda ou as Deidades de Radha-Krsna, ele ficou muito feliz. E depois disso, começou a brincar com a mrdanga e karatalas. Quando ficou um pouco mais velho, com três, quatro ou cinco anos, brincava com os outros meninos como Nityananda Pabhu costumava brincar, a brincadeira de Janma˜ama, como Krsna nasceu, e também outras brincadeiras como Ele fazia. E vivia sempre fazendo Kirtana com karatalas. Por isso, desde a mais precoce infância, ele era um menino brilhante.

Em hiadi existe um provérbio que diz que uma boa árvore frutífera exibe seus sintomas desde o início. As suas folhas são lisas, brilhantes e perfumadas, indicando que ela será muito grande, dará frutos e abrigo para muita gente. E assim seu pai fez um utsava, um festival, para inúmeros Vaisnavas de Navadapa e de outros lugares. Portanto, aquele menino estava sempre envolvido com bhakti e com os Vaisnavas.

E vocês também sabem de quem ele tomou daka, do jagadguru nitya-lala pravista om viNupada Sri Srimad BhaktiSiddhanta Sarasvathi Gosvami Thakura. Ele foi ver Prabhupada e desde o primeiro dia Prabhupada ficou muito satisfeito com ele, dando-lhe inúmeras bênçãos. E como ele estava sempre falando inglês, Prabhupada mandou que ele escrevesse artigos para o Harmonist, em inglês, e foi o que ele fez.

Qual é o significado de daka? O verdadeiro significado de daka é di, divya-jnana, conhecimento transcendental. O que é esse conhecimento? “Somos servos eternos de Krsna,” é um termo genérico. Mais do que isso é o tipo de servo eterno que podemos ser. Existem cinco tipos de servos: Santa-dasya, dasya-dasya, sakhya-dasya e então vatsalya. Yasoda e Nanda também são servos de Krsna, mas em vatsalya. E depois vem madhura. Madhura também pode ser de muitos tipos. A relação especial que estiver na daka deverá ser realizada. No Jaiva-dharma, Srila Bhaktivinoda Thakura disse que quando Brajanatha e Vijaya Kumara tomaram daka, no mesmo dia eles viram algo e ali mesmo desmaiaram. O que quer dizer desmaiaram? Que eles realizaram os seus siddha-deha e tudo mais, na mesma hora! Isso só pode acontecer no caso de um guru transcendental.

tasmad gurum prapadyeta
jijnasuh sreya uttamam
sabde pare ca nisnatam
brahmany upasamasrayam
(SB 11.3.21)

Sem isso eles não poderiam ter essa realização. Como Narada, ele iniciou Dhruva e, então, rapidamente este alcançou o darSana de Naryana. Narada iniciou Vyasadeva e logo pôde realizar tudo. Ele também iniciou Valmiki, e este logo realizou tudo. Se alguém não pode falar o nome puro, mas ainda assim o seu guru é muito poderoso e realizado, então o discípulo tem que ser como Valmiki. Ele era incapaz de falar ‘Rama, Rama.” Ele só falava “mara, mara, mara, maram, rama, rama,’ e acabou se tornando uma alma realizado. Portanto, daka significa primeira realização: “Quem eu sou? Sou uma parte transcendental de Krsna. Uma parte integrante de Krsna. Estou relacionado com Ele.” E depois disso, irá realizar quem é realmente, como Rupa Gosvami, Raghunatha dasa Gosvami realizaram. Como Srila Bhaktivinoda Thakura realizou todas essas coisas.

Por isso, caso o daka-guru não seja transcendental ou perfeitamente realizado, ele não pode atrair muita gente, seus discípulos não podem realizar nada, e a verdadeira daka não estará presente. Assim, primeiro devemos realizar quem eu sou, e depois vem a sílaba ka, que significa limpar de todos os sofrimentos, papa ou pecados, punya ou mérito piedoso, de tudo. Todos os tipos de ofensas serão eliminadas, os sofrimentos acabarão, todos os problemas irão embora para sempre. Isso é daka.

E Swamiji tomou Diksa do jagadguru nitya-lala pravista om Sri Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Gosvami Prabhupada. Como ele foi afortunado. E tomou sannyasa de quem e onde? Onde? Em Mathura, onde Krsna nasceu. Vocês sabem que Krsna nasceu em Gokula, mas Ele também nasceu em Mathura. E em que lugar de Mathura? Onde Krsna matou Kamsa, em RangeSavara Mahadeva. E em que data? Vocês sabem? No ViSvarupa-mahotsava. ViSvarupa era o irmão mais velho de Sri Caitanya Mahaprabhu. Depois de tomar sannyasa, Mahaprabhu foi para Pura, depois para o Sul da Índia à procura do Seu irmão mais velho. Ele procurou, procurou, procurou e foi para Pandarapura, descobrindo naquele mesmo dia que Seu irmão havia desaparecido desse mundo num local muito sagrado. E naquele dia Caitanya Mahaprabhu raspou a cabeça. Estava bem no meio da caturmasya. Nos quatro meses de caturmasya os Vaisnavas não se barbeiam e nem cortam o cabelo, especialmente os sanyases, que devem se barbear um dia só por mês. Uma vez por mês no dia da lua cheia, purnima. Mas, devido ao episódio de Vivarupa-kol, os Vaisnavas se barbeiam e cortam o cabelo nesse dia. Depois de Caitanya Mahaprabhu ter se barbeado e de ter raspado a cabeça, Ele fez um utsava. Foi nesse dia que o nosso Guru Maharaja, o nitya-lala pravista om viNupada Sri Srimad Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja, lhe deu sannyasa.

E qual é o significado de sannyasa? Sannyasa não é uma coisa qualquer. Sannyasa significa gopa-deha, siddha-deha. Vocês sabem o que é siddha-deha? É a forma espiritual. O guru só a dá para um devoto muito especial. Isso é muito raro. E quem a recebe nunca pode se desviar. Nunca, jamais, porque ele irá realizá-la. Primeiro o guru dá o Gopala-mantra, que também tem que ser realizado, e na sannyasa o guru dá o siddha-deha, o humor de gopa. Portanto, sannyasa não é uma coisa ordinária, não é apenas uma cerimônia de fogo onde se recebe uma daNa; não é só isso. Na sannyasa se recebe o humor de gopa. E Swamiji a recebeu em Mathura, na KesavaJi Gaudya Ma˜ha. Naquele dia também pude me dedicar a seu serviço. Eu fui uma espécie de sacerdote. Preparei-lhe as roupas, a sua dana, tridana. O que é a tridana? A sannyasa é caracterizada pelo dor-kaupin. Sabem o que é dor-kaupin? A roupa íntima. Como isso, ele será mais do que um brahmacari, e terá o humor de gopa. É isso que é dado. E isso é que é o siddha-deha. Ele o recebeu do seu gurudeva esse siddha-deha de gopa. Então, como alguém pode alegar que ele só tinha a rasa de amizade? Como um vaquerinho?

Sabemos que todas as outras rasas estão incluídas em gopa-bhava, no humor de gopa. Madhura-rasa é a adi-rasa, todas as rasas estão nela. Por isso ele podia escrever qualquer coisa, às vezes podia escrever em santa-rasa, outras em dasya-rasa, às vezes em sakhya-rasa e outras em vatsalya-rasa. Mas, na verdade, seu guru lhe deu o humor de gopa e ele o aceitou. Às vezes costumam achar que ele era um vaquerinho, porque quando estava vindo da Índia, no navio, ele escreveu algo com esse humor. Então, eu disse àqueles que estavam imaginando isso: “Não vejam as coisas dessa maneira. Seu gurudeva tem o humor de gopa, de madhurya, madhura-rasa, e no Gopala-mantra tudo está contido. Vocês não devem pensar que ele era um vaquerinho.” E eles mudaram de opinião.

E então, quem lhe deu sannyasa? Foi Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami, que era guru-nistha. Guru-nistha significa ter muita nistha. Uma fé firme. Guru-gata-praNa, sua vida e alma foram dedicadas a serviço ao guru. Ele estava sempre pronto a dar sua vida a serviço ao seu gurudeva. Meu gurudeva entrou na Ma˜ha em 1916 e deixou esse mundo em 1968. Ele esteve com Prabhupada de 1916 a 1936, quando Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura abandonou o mundo, em 31 de dezembro de 1936. Por aproximadamente 21 anos. E durante esse período serviu Prabhupada diretamente. Ele dormia no mesmo quarto que Srila Prabhupada, assim como Navina e eu. Ele estava sempre servindo Prabhupada diretamente. Conhecia todas as coisas, a etiqueta Vaisnava, sabia reverenciar os Vaisnavas devidamente, como tratar o guru, ele conhecia muito bem tudo isso.

E vocês sabem que uma vez, na época do parikrama de Navadvapa, os sahajiyas navadvipabasis e os smarta brahmaNas, tentaram matar Srila Prabhupada? Naquela ocasião, eles cercaram Prabhupada e nosso gurudeva vestiu as vestes de sannyasa e pegou a daNa de Srila Prabhupada, dando para seu gurudeva as suas roupas de brahmacara, que eram brancas. Prabhupada desejava dar sannyasa a meu gurudeva, mas todos os Vaisnavas e os secretários de Srila Prabhupada, pediram a ele: “Não lhe dê sannyasa. Se ele a receber não poderá administrar a Ma˜ha.” Meu gurudeva era um administrador muito habilidoso e se tomasse sannyasa, este aSrama não permitiria que ele administrasse a Ma˜ha. É por isso que ele costumava vestir roupas brancas, apesar de ser um brahmacari. Depois que ele trocou as roupas com Prabhupada, ele o enviou para Mayapura. Os demônios estavam cercando o prédio para apedrejar Prabhupada, jogar água fervendo e tudo mais. Eram mais de dez mil demônios. Mas meu gurudeva pôde servir Prabhupada desse jeito, trocando as suas roupas com as dele, e assim Prabhupada pôde sair sem ser reconhecido. Não foi só dessa vez que ele pôde
 servir Prabhupada. Meu gurudeva vivia junto com ele, sempre o servindo.

Não foi por acaso que Swamiji tomou sannyasa de gurudeva. Isso não foi um acidente. Ele notou: “Oh, este é um guru-nistha qualificado. Vou tomar sannyasa dele.”

Sei que Pujyapada Tirtha Maharaja, o líder de Yogapitha em Mayapura, desejava que Swamiji tomasse sannyasa dele, e muitos outros também o desejavam, mas ele decidiu tomar sannyasa de Pujyapada Kesava Maharaja. Portanto, isso não foi meramente um acidente.

Vocês sabem que depois de ter tomado sannyasa, ele foi para Vrindavana. Para onde? Para o Seva-kunja. E para qual lugar do Seva-kunja? Para o samadhi de Srila Rupa Gosvami, onde Rupa Gosvami costumava fazer bhajana, lá onde está o seu samadhi. E também o de Sri JIva Gosvami e de Krsnadasa Kaviraja. Era lá que ele costumava ficar e era onde fazia bhajana e escrevia. Eu ia lá visitá-lo. Naquela época ele não tinha um tostão, só tinha uma grande determinação. Em Mathura ele costumava me dizer: “Irei para os países Ocidentais, irei para pregar. Vou fazer inúmeras hospedarias, pensões, para receber estudantes. Vou dar-lhes carne, vinho, o que desejarem. Não faz mal. Tenho a firme convicção que se eles cantarem Hare Krsna Hare Krsna, Krsna Krsna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare, logo estarão mudados. Eles irão acabar com estas asneiras automaticamente. Não vai ser preciso dizer: “Oh, vocês devem parar com essas coisas”. E eles pararam com tudo isso por ouvirem dessa personalidade marcante.

Por isso eu também nunca digo essas coisas: “Oh, parem de comer carne. Vocês devem cantar tantas voltas. Façam isso ou aquilo”. Mas sei que eles acabarão se tornando devotos de alta classe.

E ele ficou no Seva-kunja, onde ficou Srila Rupa Gosvami, e lá permaneceu por um longo tempo. Portanto, esse é o seu bhajana-sthali, o lugar de práticas devocionais. E depois ele foi para Deli, e de Deli foi pegar o navio Jaladuta, da Sciadia, em Bombaim. E veio para o Ocidente. Vocês sabem que levou um mês de viagem. E que ele ficou muito doente a bordo. Imaginava que iria morrer, mas era Krsna quem o estava enviando, era o seu gurudeva quem o estava enviando. Talvez ele tenha visto num sonho que não iria morrer.
E qual foi a primeira coisa que fez enquanto vivia no Seva-kunja? Ele começou a escrever, traduziu o Srimad Bhagavatam, o primeiro canto em três volumes. Primeiro ele o presenteou ao seu gurudeva e em seguida me deu os três volumes. E me disse: “Agora vou circular por aí. Vou distribuir esses livros.” A linguagem que ele escreveu era muito doce, muito mais do que depois que eles reformaram, editaram tudo. Tão doce que ia direto ao coração, muito simples. Mas eles editaram, reeditaram, refizeram e reformaram e tudo está mudado. Vocês precisavam ver o original, como era doce e maravilhoso.

Ele começou com o livro de Krsna, como ele era maravilhoso, uma linguagem tão doce, muito simples mesmo. Qualquer um se sentia atraído por ele. E depois escreveu o “Bhagavad-Gita Como Ele É”. Ele veio pregar a filosofia como está no Gita. E estes livros estão pelo mundo. Especialmente o Gita. O que é o Gita? Sarva-dharman parityajya mam ekam SaraNam vraja. E qual é o significado? Não acredite na sua riqueza, na sua inteligência, em nada do que você possui. Não acredite em ninguém desse mundo, só acredite em gurudeva e nos Vaisnavas, e acredite em Krsna. Isso é SaraNagati. E o que é SaraNagati? São as seis formas de readição. Render-se é pensar: “Krsna irá me salvar, irá me sustentar e me nutrir, Ele prometeu que faria isso.” Então, por que ficamos pensando: “Vou controlar todas as coisas, meu sustento e tudo mais.” Se Krsna está sustentando, por que devo me preocupar? Será que Krsna vai mudar o Seu hábito de manter e nutrir os Seus devotos? Não, não vai. Um dos Seus nomes é Acyuta. Infalível. Ele não pode falhar em cumprir essa promessa. Por isso, tenham a firme convicção de que quem está fazendo bhajana e quem abandonou os pais, esposa, filhos, irmãos, todas as posses, reputação, tudo por causa de Krsna, Krsna é obrigado a mantê-lo e a nutri-lo. Ele pode até mesmo levar uma carga sobre Sua cabeça e entregá-la ao devoto pessoalmente. Ele já fez isso muitas vezes. Portanto, não se preocupem. Tentem ser fortes, porque o seu gurudeva era muito forte. Ele tomou sannyasa e nunca a abandonou. Vocês podem sonhar com ele abandonando sannyasa? Nunca, jamais ele a abandonaria. Portanto, tentem ser como ele.

Ele fazia bhajana no Rupa Gosvami bhajana-sthali. Isso significa que ele era um Vaisnava rupanuga. O que quer dizer rupanuga? Acho que são muito raras as pessoas que sabem o que quer dizer rupanuga. Rupanugas são os seguidores de Srila Rupa Gosvami. Mas o que isso quer dizer? Rupa Gosvami é o acarya da linha de madhurya. Devemos seguir o que ele escreveu no Bhakti-rasamrta-sindhu e então automaticamente seremos rupanugas? Não, não é isso. Os devotos que praticam raganuga-bhakti seguem os passos de ragatmika-bhaktas que têm um relacionamento eterno com Krsna, como as gopas, Nanda-YaSoda, os vaquerinhos etc. Mas rupanuga significa especificamente seguir rupanuga-bhakti, seguir a linha de bhakti de Srila Rupa Gosvami, que está na linha de Sri Caitanya Mahaprabhu: Sra -caitanya-mano-’bhistam sthapitam yena bhu-tale. Como assim? Que está no humor que conhece as razões internas do aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu, que tem conhecimento das três coisas que Mahaprabhu veio saborear:

Sra-Radhayah praNaya-mahima kidro vanayaiva-
svadyo yenadbhuta-madhurima kidrso va madiyam
saukhyam casya mad-anubhavatam kidr
am veti lobhat
tad-bhavadhyam samajani Saca-garbha-siN
hau harindum

(Cc Adi 1.6)

“Desejando compreender as glórias do amor de RadharaNa, as maravilhosas qualidades nEle que apenas Ela saboreia com o Seu amor e a felicidade que Ela sente quando saboreia a doçura do amor dEle, o Senhor Supremo Hari, ricamente dotado com as emoções dEla, apareceu no ventre de Srimata Sacadeva, assim como a lua surge do oceano.”

Rupanugas são os devotos que sabem que Sri Caitanya Mahaprabhu veio saborear essas três coisas, a doçura do amor de Radha por Krsna, a grandeza do amor de Radha, que nem Krsna conhece. Por isso é que Krsna veio como Sri Caitanya Mahaprabhu. E também para dar apenas um pouquinho dessas três coisas aos outros. A doçura é essa. Mas Ele não veio para distribuir isso. E o que foi que Ele veio distribuir?

anarpita-carim cirat karunayavatirnah kalau
samarpayitum unnatojjvala-rasam sva-bhakti-sriyam
(Cc Adi 1.5)

Sriyam. O que é Sri? É a beleza do humor de Srimata Radhika, o humor de Sri Rupa-manjara, Rati-manjara, o humor de Srila Rupa Gosvami em seu siddha-deha, no seu corpo espiritual perfeito. Como Rupa-manjara está servindo, como Srila Rupa Gosvami está servindo em seu siddha-deha ao casal Radha e Krsna, sendo especialmente favorável a Srimata Radhika. Krsna pode estar satisfeito ou não estar satisfeito, mas Radhika deve estar sempre satisfeita. Esse é o humor de Srila Rupa Gosvami. Ele irá aplaudir se Srimata Radhika derrotar Krsna. Esse é o humor de Srila Rupa Gosvami. E se Srimata Radhika estiver sofrendo muito com a saudade, ele também irá sentir saudade. Isso é rupanuga. Todos os rupanugas são raganugas, mas nem todos raganugas são rupanugas.

Srila Raghunatha dasa Gosvami e Sri JIva Gosvami são rupanugas. Até mesmo Srila Sanatana Gosvami admitiu que era rupanuga, apesar de ser o guru de Srila Rupa Gosvami e de ser seu irmão mais velho. Mas ele reverenciava Srila Rupa Gosvami dessa maneira. E disse isso no Brhad-bhagavtamrta. Portanto, ele era rupanuga.

E o seu Prabhupada? O meu daka-guru? Essa é a sua verdadeira glória. Foi por isso que ele foi viver no samadhi de Srila Rupa Gosvami e lá realizou tudo isso. Ele desejava dar isso no décimo canto do Srimad Bhagavatam, mas não pôde fazê-lo. Essas são as glórias de Swamiji, nosso gurudeva.

 

E então o seu primeiro grantha, o seu primeiro livro, qual foi? “Fácil Jornada para Outros Planetas.” Esse foi o seu primeiro livro, e depois ele fez inúmeras traduções e o Livro de Krsna. Mas o seu primeiro livro foi o “Fácil Jornada para Outros Planetas”. O que vem a ser “Fácil Jornada”? Ele escreveu isso quando os americanos e os russos estavam tentando ir à lua, viagens espaciais; essas tolices. Vocês não podem ir para lá. Bem, mas há um processo muito fácil para ir a outros planetas. E qual é ele? É o processo do vaiNavismo. Primeiro aceite um gurudeva, depois tente fazer bhajana, então virá nistha, ruci, asakti e depois virá bhava, ou rati. Depois disso virá svarupa-siddhi. E depois? Depois virá vastu-siddhi. E entraremos na lala de Krsna sem a necessidade de aeroplanos. Os aeroplanos e coisas assim poderão enganar vocês, eles podem cair no meio do caminho e vocês nunca chegarão a lugar nenhum. Podem até mesmo não voltar sequer para esse mundo. Mas o vainavismo é um processo muito fácil e autêntico.

Como Narada a. Ele tomou daka dos seus gurudevas Sanaka, Sanandana, Sanatana. Depois disso ele sentou para bhajana e muito rapidamente entrou em transe e teve uma visão da sua Deidade adorável. E então abandonou o corpo, pondo o pé na cabeça da morte e chegou ao seu siddha-deha. Ele deixou o corpo, esse corpo mortal. E foi bem depressa para onde? Ele começou sua jornada de Prayada, depois foi para o Sul da Índia, Trivedam, depois para Jagannatha Pura e então, sem a ajuda de qualquer aeroplano ou de outra engenhoca qualquer, ele foi para Svarga, para os planetas celestiais. E a seguir para Tapa-loka, e rapidamente alcançou Brahma-loka e então foi para Patala-loka. Para onde Prahlada Maharaja estava servindo, e onde Bali Maharaja estava servindo. Prahlada servia em Sutala-loka. Lá, ele teve um darSana de Vamana-deva e depois foi visitar Hanuman em Ayodhya. De Ayodhya ele foi para Dvaraka e de Dvaraka foi para Vrindavana. Esse é um processo fácil. Não existe a necessidade de usar essas coisas mundanas, e com o corpo espiritual, bem rápido, num instante, pode-se ter milhões de formas e estar presente simultaneamente em milhões de mundos, onde se irá servir sua Deidade adorável, em inúmeras formas de Krsna. Portanto, esse é o método fácil.

E também havia um menino chamado Gopakumara. Vocês já ouviram falar de Gopakumara no livro Brhad-bhagavatamrta, escrito por Srila Sanatana Gosvami? Ele o usou como exemplo. Este menino era um brijabasi, ele foi para o Prayada-jyotisa aSrama, na Índia, um lugar de cultura rudimentar, e lá tomou daka de deva, Kamakahya-deva, Durga, e depois foi para o Ganga-sagara, na Bengala. E então para KaSa. Lá, onde vivem os NirviSea-brahmavadas. E de lá foi para Prayaga, que é como VaikuN˜ha, e depois foi para Mathura e Vrindavana. De lá foi para Pura e depois para o céu, a seguir para Tapa-loka, Brahma-loka e atravessou o Viraja. De lá foi para onde está o Karanabdhiaya ViNu e depois para a Brahma-dhama, o local da liberação. Onde há diferença e não-diferença simultâneas.

Depois disso passou rapidamente por Siva-loka e de lá foi para VaikuN˜ha, e, atravessando VaikuN˜ha, chegou a Ayodhya. Como? Cantando gopa-jana-vallabhaya svaha. Com isso, com o mantra. Um método muito fácil. Esse mantra é muito poderoso. Não temos fé nesse mantra e é por isso que caímos, que estamos fazendo outras coisas, tantas outras atividades, preocupados com a nossa manutenção e tudo mais. Por isso, adotando esse método, para fácil jornada para outros planetas, ele chegou a Dvaraka, e atravessando Dvaraka chegou a Mathura, e depois de Mathura, chegou a Vrindavana. Esse processo é muito fácil.

Ao escrever seus livros, Swamiji deu uma nova mensagem ao mundo inteiro. Devemos tentar acreditar no que ele escreveu.

E então ele traduziu o Caitanya-caritamrta. Um livro maravilhoso e muito poderoso. A essência do Srimad Bhagavatam está no Caitanya-caritamrta. Vocês não poderão entender o Srimad Bhagavatam sem a ajuda do Caitanya-caritamrta.

yaha, bhagavata pada vaisnavera sthane
ekanta asraya kara caitanya-carane
(Cc Antya 5.131)

Se alguém quiser ler ou estudar o Srimad Bhagavatam, deve sentar-se aos pés de lótus de Vaisnavas auto-realizados, que tenham realizado o significado do Srimad Bhagavatam, estudando e ouvindo o Srimad Bhagavatam sob sua direção. O mesmo se aplica ao Caitanya-caritamrta, não há diferença alguma. Creio que o Caitanya-caritamrta é a essência do Srimad Bhagavatam. Sem a ajuda do Caitanya-caritamrta não podemos compreender o significado profundo do Srimad Bhagavatam. O Caitanya-caritamrta é maravilhoso, já o li inúmeras vezes e seu significado é sempre renovado. Cada vez que o leio fico pensando que jamais o havia lido antes. Sempre surgem novidades.

Depois de escrever estes livros, Swamiji começou a pregar. Primeiro ele foi para a América, em Boston. De Boston foi a Nova Iorque, onde costumava ir sentar naquele parque, o Tompkins Square Park. Creio que entre os que estão me acompanhando, apenas Jadurani o conheceu naquela época. Jadurani é uma devota muito avançada, ela é uma brajabasi, e está mais avançada que alguns sanyases.

Lá no Tompkins Garden, Swamiji fazia Kirtana com karatalas:

Sra Krsna-caitanya prabhu-nityananda
Sra advaita gadhara Sravasadi-gaura-bhakta-vrnda

Como os olhos fechados. Ele costumava cantar muito concentrado, com amor e afeição. Pode ser que as lágrimas estivessem vindo, o coração derretendo, e num tom muito doce, ele cantava assim:

 

Sra Krsna-caitanya prabhu-nityananda Sra advaita gadhara Sravasadi-gaura-bhakta-vrnda

 

E depois:

 

Hare Krsna Hare Krsna, Krsna Krsna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare

 

As pessoas que se julgavam “civilizadas” jamais iriam olhar para ele. Somente os hippies estavam por ali, e vieram com os seus instrumentos musicais, com cigarros, com a garrafa de vinho. Eles dançavam naqueles Kirtanas de Swamiji, e às vezes queriam lhe dar vinho de presente. Achavam que aquilo era a coisa mais valiosa que podiam oferecer a alguém. Mas ele não estava desejando essas coisas. Foi como Haridasa Thakura e a prostituta, que ficou três noites ouvindo os santos nomes e acabou se tornando devota. Então por que aqueles hippies também não mudariam? Eles acabaram se tornando happies (felizes). Swamiji mudou muitos hippies que agora são devotos muito proeminentes, muito bons devotos. É assim que vocês devem notar as glórias de Swamiji.

Creio que tudo começou no número 26 da Segunda Avenida. Foi lá que ele deu a primeira iniciação. Muita gente foi vê-lo. Ele estava muito feliz e me escreveu algumas cartas comentando sobre isso. Ele dizia estar muito inspirado: “Não precisa mandar ninguém da Índia, agora os meus discípulos estão aparecendo e se integrando. Já fizemos uma sociedade aqui”. E fui o primeiro a receber essa notícia, numa carta em que ele dava os nomes dos seus discípulos e da sociedade. Ele dizia: “Agora nossa pregação está indo muito bem.” E assim que eu recebia essas cartas, respondia, dando-lhe mais inspiração.

Estive lá em Nova Iorque, onde a sociedade começou.

Swamiji também costumava me dizer que o seu escritório ficava em Bombaim, que seu bhajana-sthali era em Navadvapa, Mayapura e que a sua residência transcendental era em Vrindavana. Ele não dizia que residia ali um ou dois dias, mas eternamente. Onde? No Seva-kunja. Vocês conhecem as glórias do Seva-kunja? Todas as gopas servem a Krsna, mas lá no Seva-kunja é Krsna quem serve a Radhika. Por isso é que o lugar é chamado Seva-kunja, o seva-kunja de Krsna, lá quem serve é Ele. Ele está glorificando Srimata Radhika e deseja acalmá-lA, dando a Sua flauta e Sua pena de pavão aos pés de lótus de Srimata Radhika nesse local. Vocês devem ir visitá-lo. Fica perto de Srngara-vata. Vocês já foram ter um darSana de Srngara-vata? Fica bem ali perto, perto do bhajana-kutir de Srila Rupa Gosvami. Srngara-vata foi onde Krsna decorou Srimata Radhika. E estes eram os locais que Swamiji costumava visitar. E foi por isso que ele tomou samadhi ali. Onde ele recebeu o samadhi? Vocês sabem? Foi em Vrindavana na sua residência.

 

Qual é o significado de receber o samadhi? Esse é um significado de alta classe, tem um significado muito reservado. Samadhi. Sama-dhi, sama significa igual, dhi significa coração. Onde o coração é igual. Onde alguém pode servir a sua Deidade adorável, pois o seu coração se identifica com o lugar. Se a pessoa não é um gopa ou uma gopa, não poderá servir a Krsna e a Krsna. Compreenderam o significado? Na adeva devam arcayet. Isso quer dizer, segundo o nyaya Sastra, o Sastra da lógica, que a menos que alguém se torne um semideus, não poderá servir aos semideuses. Indra está em Indraloka e para servi-lo você terá que ir para lá e se tornar um semideus, então poderá servi-lo. Por essa lógica compreendemos que a menos que alguém se torne igual ao objeto do seu serviço, não poderá servir de verdade, com intimidade, para satisfazer plenamente os desejos de quem é servido.

Para servir assim a pessoa tem que realmente saber o que Krsna deseja. Como Ele ficará satisfeito. Para isso ela tem que ser um gopa. Krsna não pode brincar com semideuses ou outros seres. Ele não pode brincar no colo de Yasoda em Vaikuntha. Em Vaikuntha Ele não pode ter amigos como Dama, Sridama, Sudam, Vasudama, Stoka-Krsna, Labanga, Ujjvala, Subala, Madhumangal e outros. E, além disso, em Vaikuntha Ele não brinca com as Suas amantes, as gopas, no Radha-kuna. Portanto, se alguém deseja servir a Krsna, terá que ser um associado assim, bem íntimo, exclusivamente em Vrindavana. Ele tem que ser um gopa ou uma gopa. Caso contrário não poderá servir. E como poderá servir?

om tad vinom paramam padam sada pasyanti
surayam diviva cak
ur atatam
(Rg Veda, k-samhita 1.22.20)

“Quem deseja servir tem que ser assim, então poderá servir.”

Portanto, samadhi significa que o coração deve ser igual aos dos brajabasis, de um gopa ou de uma gopa, e então a pessoa poderá saber como satisfazer Krsna. Nanda Baba deseja servir Krsna. De que maneira? Como pai. Ele diz: “Krsna, traga os meus sapatos”. E Krsna, peladinho, os traz, dançando, com os padukas na cabeça. É assim que Ele faz. E vem calçar os sapatos nos pés de Nanda Baba. E o que Nanda Baba faz? Ele vai abraçar Krsna.

Se alguém souber servir Krsna como Subal, está bem. O que Krsna desejar, só diz para Mandhumangal e Subal ou para Ujjvala; só para os priya-narma-sakhas. Os amigos íntimos. Ele não irá dizer para YaSodamaiya, para Nanda Baba ou para ninguém mais. Se desejarem servir Krsna dessa maneira, então terão que ter o coração como o deles.

E ainda mais elevada é Vrnda. Vrnda-deva arranja todas as kunja-lalas de Krsna com as gopas. Yogamaya é quem faz todos os outros arranjos, mas não os da kunja-lalas. Quem promove toda a a˜a-kaliya-lala é Vrnda-deva. Por isso temos que saber todas essas coisas, o coração das gopas está nelas, e se as seguirmos o nosso coração será igual ao delas, então poderemos servir ao casal Radha e Krsna. Quando isso acontece, isso se chama samadhi. Portanto, Swamiji é de Vrindavana, e agora a quem ele está servindo? Ao casal divino, sob a direção de Lalita, ViSakha e Rupa-manjara, porque ele é rupanuga-guru-varga. Isso é samadhi.

Bem, agora vamos falar sobre os livros de Swamiji, sobre seus ensinamentos. Ele deixou seus ensinamentos em todos os lugares, em todos os livros, especialmente no Néctar da Instrução, que é um livro pequeno, mas muito elevado. Ele não disse que vocês só devem distribuir livros, fazer goalas e coisas assim. Vocês devem tentar experimentar esse néctar, que são os livros dele, e depois distribuí-los. Se vocês não tiverem a realização do néctar que são seus livros, se nunca tentarem realizar, então, não estarão na linha de Swamiji. Por isso devemos nos aprofundar naquilo que ele escreveu, e depois tentar seguir, e isso não quer dizer: “Oh, vamos pregar! Pregação é distribuição de livros, ganhar dinheiro, ter membros vitalícios e só isso.”

O que isso provoca? Ora, isso fará o bolso de vocês ficar pesado. Irão dar uma porcentagem para quem controla a distribuição e o resto ficará no seu bolso, e no fim acabarão no inferno por venderem os Vedas. Mas, se vocês experimentarem o néctar desses livros, que seguem a linha de Srila Rupa Gosvami desde o início, com:

vaco vegam manasam krodha-vegam
jihva-vegam udaropastha-vegam
etan vegan yogamaya vi
aheta dharam
sarvam apamam prthivam sa Si
yat
(UpadeSamrta # 1)

E depois com:

atyaharam prayasaS ca
prajalpo niyamagram
jana-sangaS ca laulyam ca
abhir bhaktir vinaSyati
(UpadeSamrta # 2)

utsahan niScayad dhairyat
tat-tat-karma-pravartanat
sanga-tyagat sato vrttem
abhir bhaktir prasidhyati
(UpadeSamrta # 3)

São essas as coisas mais importantes. Utsahan niscayad, vocês estarão sempre utsahan: entusiasmados. Sempre inspirados. Se alguém estiver assim não pode cair. Estará sempre dedicando sua mente à consciência de Krsna e será realmente consciente de Krsna.

Então tan-nama-rupa-caritadi-sukritananu (UpadeSamrta # 8). Se vocês desejarem que isso aconteça, então devem seguir as suas instruções: krNeti yasya giri tam manasadriyeta (UpadeSamrta # 5). Tudo isso é muito importante. Se não estiverem reverenciando os devotos, não poderão reverenciar gurudeva. Porque os devotos são partes integrantes de gurudeva, portanto, deverem respeitá-los devidamente. Se ficarem pensando que apenas vocês devem ser respeitados, isso é contra bhakti. Swamiji nunca lhes deu essa instrução. Ele mandava que se respeitassem os Vaisnavas, sem levar em conta o critério de casta e credo. Esses foram seus ensinamentos. E por fim:

tan-nama-rupa-caritadi-sukritananu-
smrtyom krameNa rasana-manasa niyojya
ti
˜han vraje tad-anuraGosvami-jananugama
kalam nayed akhilam ity upadeSa-saram
(UpadeSamrta # 8)

Essa foi a sua última instrução e ele a escreveu maravilhosamente.

· · ·

Enquanto Srila Prabhupada estava deitado em seu leito de morte, assumia certas posturas que não podíamos compreender. Só imaginávamos que ele estava se mexendo na cama. Ele punha as mãos de uma certa maneira, colocava a cabeça de uma maneira, as pernas de maneira especial e arqueava o corpo de certa maneira. Então Srila Naryana Maharaja disse: “Oh, ele está fazendo o mudra tal e o mudra tal. Isso são tipos de mudras. Isso é exibido por alguém muito especial quando está prestes a deixar esse mundo. Isso indica que ele está dançando com Krsna. Quando alguém exibe essas posturas no leito isso indica que ele está dançando com Krsna, essas são as posturas da dança.”

 

Algumas pessoas podem tentar compreender o relacionamento de Srila Prabhupada com Krsna, mas isso indica um passatempo específico. Então Srila Naryana Maharaja trouxe seus brahmacaris. Ele tinha um pequeno coral lá em Mathura. Srila Naryana Maharaja e os brahmacaras começaram a cantar “Sri-rupa-manjara-pada.” Srila Naryana Maharaja tinha uma voz maravilhosa; de um perfeito barítono. Ele cantava bem lentamente, compassado: “Sri-rupa-manjara-pada, sei mora sampada.” Todo mundo estava chorando comovido. O quarto inteiro estava em prantos. Todos estavam extremamente emocionados e assim passamos aquela noite, o Kirtana continuou o tempo todo assim.

(Um registro feito por Bhagavata dasa, um dos discípulos mais antigos de Srila Prabhupada que esteve presente naquela noite de 8 de outubro de 1977. Trata-se de um assunto muito confidencial e oramos aos Vaisnavas que tratem essas informações com o devido cuidado, pois esses temas não se prestam para discussões públicas.)

 

(*)É uma tradição da Gaudya Matha que todos os Acaryas e sanyases se tratem pelos nomes de sannyasa. Como o nome de sannyasa de Srila Prabhupada era “Swami”, Srila Naryana Maharaja o trata por este nome, acrescentando o sufixo “Ji”. “JI” indica grande consideração, bem como intimidade e afeição. Antes de Srila Prabhupada vir para o Ocidente, eles se relacionavam em Vrindavana como amigos íntimos. E além disso, ambos tomaram sannyasa do mesmo guru, e também tinham um relacionamento de irmãos espirituais. Srila Naryana Maharaja às vezes trata Srila Prabhupada de Swami ji, outras vezes de Swami Maharaja, às vezes de Prabhupada e outras vezes de Srila Prabhupada.

[1] (**) Devemos honrar mentalmente o devoto que canta os santos nomes do Senhor Krsna, devemos oferecer humildes reverências ao devoto que se submeteu à iniciação espiritual (daka) e que está se dedicando a adorar a Deidade e devemos nos associar e servir fervorosamente o devoto puro que é avançado e que não se desvia do serviço devocional e cujo coração está completamente livre da propensão de criticar os outros. (Néctar da Instrução, texto 5)

 

[2] (***)Está declarado no Caitanya-caritamrta, Madhya-lala (8.90, sig.): “Apesar de, conforme a concepção material, Naryana, Rukmina-ramaNa e Krsna serem idênticos, no mundo espiritual não podemos usar o nome de Krsna no lugar de RukmiNa-ramana ou NarayaNa. Se alguém faz isso devido a um pobre fundo de conhecimento, sua doçura com o Senhor se torna espiritualmente defeituosa e é chamada rasabhasa, uma sobreposição de doçuras transcendentais. O devoto avançado que tenha realizado de verdade os aspectos transcendentais do Senhor não cometerá o erro de criar uma situação de rasabhasa por usar um nome em lugar do outro. Devido a influência da Kali-yuga, existe muita rasabhasa em nome da extravagância e da liberalidade. Este fanatismo não é muito apreciado pelos devotos puros.”

 

[3] (*) Este é o templo onde Srila Prabhupada tomou sannyasa e onde Srila Naryana Maharaja reside e prega

 

[4] (**) Quando este momento oportuno chegará para nós, quando ocorrerão arrepios no corpo logo que cantarmos o nome do Senhor Gauranga?

[5] (***) Quando ficarei ansioso para estudaar os livros deixados pelos seis Gosvamis? Devemos tentar compreender este yugala-pariti, amor conjugal, sob a direção dos Gosvamis para este mundo

[6] (4*) O amor de Radhika é Meu mestre e eu danço como Ela me ensina. O Seu prema me faz dançar inúmeras peças dançantes. (Cc., adi-lala: 4.124)

[7] (6*) Na verdade aqueles que estão sempre dedicados à consciência de Krsna e maduros em serviço devocional puro, recebem a oportunidade de, depois da morte, de obterem a associação de Krsna nos Universos dentro do mundo material onde os passatempos de Krsna estão ocorrendo continuamente, quer seja neste Universo quer em outro Universo... Neste Universo os devotos recebem as suas primeiras oportunidades de se associarem com Krsna pessoal e diretamente. O treinamento continua, como vemos na Vrindavana-lala de Krsna neste planeta. (Livro Krsna, cap. 28).
 compreendê-lo de verdade.

 

[8] (5*) Mas estes três desejos (compreender o amor de Radha) não foram satisfeitos, pois uma pessoa não pode desfrutá-los numa posição contrária. A menos que eu aceite o brilho do amor extático de Srimata Radhika, estes três desejos não poderão ser satisfeitos. Portanto, assumindo os sentimentos de RadharaNa e a Sua compleição corpórea, devo descer para satisfazer estes três desejos. (Cc., adi-lala: 4.265-268) yogavada,

[9] (*) Srila Prabhupada é um devoto nitya-siddha, um associado sempre renunciado e eternamente liberado de Krsna. Para mostrar para as almas coadicionadas como devemos avançar do coadicionamento material para a devoção pura Prabhupada manifestou esta chamada “nara-lala” ou passatempos humanos. Na nara-lala ele simula ser uma alma coadiconada avançando.

[10] (**) Srila Prabhupada foi inspirado pela prece de Raghunatha dasa Gosvami a Sanatana Gosvami no Vilapa-kusumanjali (citada no Cc. adi: 5.203, sig.): apayayan mam anabhapsum andham/ krpambudhir yaƒ para-duƒkha-duƒkha/ sanatanas tam prabhum aSrayami. “Não tinha o desejo de beber o néctar do serviço devocional que a renúncia possui, mas Sanatana Gosvami, por sua misericórdia imotivada, fez com que eu o bebesse, de outra maneira eu seria incapaz de fazer isso. Portanto ele é um oceano de misericórdia. Ele é muito compassivo com as almas caídas como eu, e é meu dever oferecer-lhe respeitosas reverências aos seus pés de lótus.”

[11] (*)Srila Trivikrama Maharaja é um dos três discípulos proeminentes de Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja. Ele tomou sannyasa de Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja na mesma época que Srila Naryana Maharaja e Srila Vamana Maharaja, e atualmente eles pregam juntos e entusiasmam milhares de devotos.

 

[12]  (**) Srila Narahari Dada era um discípulo antigo e íntimo de Srila Bhaktisiddanta Sarasvathi Thakura. Ele era considerado a “mãe” da Gaudya Math. Ele também fez arranjos para cuidar e sustentar todos os devotos. “Dada” significa irmão espiritual mais velho.

 

[13]  (***) Vinoda Dada é o nome de brahmacara de Srila Bhaktiprjnana Kesava Gosvami Maharaja. O seu nome todo era Vinoda Vihari Brahmacara. Ele era o gerente da Gaudya Ma˜h na época de Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura.

 

[14]  (4*) Depois do desaparecimento de Srila Bhaktisiddanta Sarasvathi Thakura Prabhupada, Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja desejou pregar vigorosamente por sua causa. Srila BhaktiSiddhanta Sarasvathi Thakura já tinha ficado muito satisfeito com a erudição e pregação de Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja, ele lhe deu todas as suas escrituras e Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja compreendeu o significado delas — por isso Gurudeva desejou que ele pregasse o verdadeiro significado de Vedanta — como bhakti. Portanto ele desejou estabelecer um centro ou sociedade para a pregação de Vedanta, o que Sri Gaurasundara desejava dar a este mundo — rupanuga-bhakti. Assim sendo ele iniciou a Gaudya Vedanta Samiti.

 

[15]  (5*) Srila Vamana Maharaja era o braço direito de Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja e é reconhecido como o acarya da Gaudaya Vedanta Samiti, por vontade de Srila Bhaktiprjnana Kesava Maharaja. Ele também é o presidente da sociedade.

 

[16] (6*) O Sri Gaudya Patrika continua sendo editado até hoje em Navadvapa pelos discípulos da Gaudya Vedanta Samiti. A publicação do Sri Bhagavat Patrika também continua sendo feita pelos devotos na Kesavaji Gaudya Ma˜h, em Mathura.
 

 

[17] (*) É uma tradição da GaudyaMatha que todos os Acaryas e sanyases se tratem pelos nomes de sannyasa. Como o nome de sannyasa de Srila Prabhupada era “Swami”, Srila Naryana Maharaja o trata por este nome, acrescentando o sufixo “Ji”. “JI” indica grande consideração, bem como intimidade e afeição. Antes de Srila Prabhupada vir para o Ocidente, eles se relacionavam em Vrindavana como amigos íntimos. E além disso, ambos tomaram sannyasa do mesmo guru, e também tinham um relacionamento de irmãos espirituais. Srila Naryana Maharaja às vezes trata Srila Prabhupada de SvamaJi, outras vezes de Svama Maharaja, às vezes de Prabhupada e outras vezes de Srila Prabhupada.

 

 

               

 

 

 

AS TRÊS GRANDES ONDAS DE SRI CAITANYA MAHAPRABHU NO BRASIL

(História do Movimento Hare Krsna no Brasil - por Vyasa Dasa)

Relato Histórico do Inicio do Vaisnavismo no Brasil em 1973, com A.C. Bhktivendanta Swami Prabhupada, e os demais momentos importantes que se seguiram com a continuidade evolutiva do Estabelecimento de Grandes Acaryas Vaisnavas, sendo Srila Sridhara Maharaja a partir de 1.980 e atualmente Srila Narayana Maharaja.

 

 

 

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